ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | XXY- Do história do desejo ao desejo da clínica. |
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Autor | Ieda Tucherman |
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Resumo Expandido | Nos seus rigorosos estudos sobre a disciplina e o biopoder, Foucault apresenta uma premissa fundamental: o sexo era o lugar onde se uniam os dois braços do biopoder, ou, se quisermos, da biopolítica: seriam eles, a anátomo-política dos corpos e a biopolítica das populações. Sem sugerir a possibilidade de espaço fora deste biopoder, mas associando ao conceito radical de dispositivo, que implica em pensar não num espaço externo ao biopoder, mas às suas realizações afirmativas, das quais os discursos da arte, e especificamente no caso, os do cinema, aparecem como linhas de subjetividade que enroscam-se no novelo do saber e do poder ,gerando forças e formas que se expressam nestes campos e , esta era a sua hipótese também, na vida. Afinal, “ porque um abat-jour pode ser uma obra-de-arte e a vida não?” perguntou ele num de seus artigos.
Portanto, o que ele propunha, era que os homens, no lugar de fazerem do desejo discurso e campo de saber, fizessem novas possibilidades de experiência de si mesmos e da liberdade. Se nos ativermos à hipótese repressiva, hoje vivemos um momento onde as práticas antes condenadas, são consideradas estilo, tais como o sado-masoquismo e a indústria do consumo soube explorar isto no cinema e nas sexy-shops. Ao mesmo tempo, em função de um conjunto ligado às vitórias das biotecnologias e de suas promessas e dos atuais modelos de visibilidade absoluta, o que hoje parece interessar como problematização em relação à sexualidade são as experiências ligadas à sua relação com tecnologias de difusão, tais como a pedofilia e sua associação com a WEB, ou a apresentação dos casos invisíveis porque excepcionais, nos dois sentidos de exceção e espetáculo. Em vez de objeto de discurso e texto, objeto de visão ou de meta-visão se filmes e seriados puderem ser vistos como a apropriação crítica ou não desta linguagem da absoluta visibilidade. O filme XXY, de 2007, ganhador de prêmios internacionais é,certamente, um filme de matriz contemporânea, e trata deste assunto com uma rara sensibilidade. Apontando um distanciamento do “ procedimento padrão” e gerando uma equivocação no deslocamento da figura do normal e do patológico , ao mesmo tempo em que suspende os princípios da norma como distribuição de normalidades, parece nos apresentar questões que passam por: quais são as questões da sexualidade hoje? Como tratar de indefinição como diferença não redutível às lógicas da identidade e diferença? Como afeto e subjetividade se cruzam em ambientes onde as escolhas culturais ficam em suspenso? Há muito mais a elaborar, mas , sem perder o fio condutor, nos anos de 2008 e 2009 o seriado House apresentou dois casos enigmáticos , Skin Deep e The safter side , cujo diagnóstico foi também o de hermafroditismo. O contraste entre ambos seria muito empobrecido se optássemos por elogiar a diretora Luiza Puenzo por XXY e banalizássemos o tratamento do tema em House por ser um seriado televisivo. Certamente não e trata da mesma visada, não encontramos a mesma sutileza, mas a presença comum de um tema tão particular é significativa. Se acreditamos que o cinema é o lugar onde encontramos os sintomas da cultura, parece-nos interessante esta abordagem. |
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Bibliografia | Agamben, Giorgio, Nudités, Éditions Payot Rivages, 2009
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