ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | O ponto de vista dos nativos: da descrição fílmica à interpretação antropológica |
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Autor | Carlos Francisco Pérez Reyna |
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Resumo Expandido | As causas de nosso interesse por este tema radicaram, fundamentalmente, na possibilidade de procurar diálogos e pontos de convergência entre esses dois territórios: o cinema e a antropologia. Sendo assim, procuramos jogar alguma luz sobre a seguinte questão: Como podem os filmes fornecer informações que escapam à antropologia escrita?
No que diz respeito aos rituais andinos, que é o nosso caso, acreditamos que a imagem animada é um dos instrumentos mais aptos para dar conta tanto de sua condensação (dramatização), quanto da maneira de inquirir os informantes (metodologia). Posto que o filme, no caso do primeiro aspecto, permite registrar e restituir a delimitação espaço-temporal do continuum das manifestações diretas efêmeras (gestos rituais, palavras e manipulações) e das manifestações indiretas (objetos e vestígios da atividade ritual). E, no segundo caso, um ponto de diálogo estabelece-se com a hermenêutica, também chamada por Geertz do "entendimento do entendimento cultural". Isto é, sobre a descrição fílmica do observado filmado, inquirir o informante acerca das formas simbólicas presentes na imagem. O importante para nós é descobrir junto com eles "que diabos eles acham que estão fazendo" (GEERTZ; 1997:89). Então, a imagem animada serve para estabelecer a relação entre aquilo que o informante vê, sente, percebe e dá significado e aquilo que o pesquisador vê, sente, percebe e dá significado. Na antropologia os métodos utilizados para obter dados, ainda que se constituam por assim dizer de dados primários, sempre devem ser analiticamente reconstituídos. É muito natural que o trabalho de campo na produção social de conhecimento demande e exija um reexame da constituição das informações obtidas. É neste estágio do processo de observação que nos detemos sobre as seguintes questões: Será que antes de elaborar e descrever os primeiros resultados da observação sensorial não deveríamos verificar se essa observação foi minuciosamente realizada? Que condição instrumental ou técnica nos permite a possibilidade de repetir, restituir e, portanto, verificar o processo de ritual observado? Estamos nos referindo à introdução, no instrumental de pesquisa do antropólogo, dos aparelhos de registro e de leitura videográficos, de suporte magnético. Efetivamente, as técnicas videográficas têm a particularidade de que seu suporte fixa de maneira persistente todo um fluxo de atividades sensíveis que pode ser verificado e analisado pelo pesquisador-cineasta, pelo informante e pelos dois juntos, no próprio campo ou no laboratório, inúmeras vezes. Por isso, torna-se fundamental para novas descobertas. A abertura de uma nova relação de troca de informações, graças às potencialidades deste novo meio, segundo Claudine de France, dá origem a uma nova proposta na antropologia chamada de procedimento exploratório: "Três tipos de fatos parecem estar na origem da generalização do procedimento exploratória. São eles: a existência de processos repetidos; a possibilidade técnica de repetir o registro contínuo destes processos; o de repetir, no próprio local da filmagem, o exame da imagem, (...)" (1998:342). Isto é, a partir do momento em que é possível reproduzir repetidas vezes o fluxo contínuo do processo estudado e observar à vontade sua imagem—o sensível filmado reversível —, a autora levanta as seguintes questões: Por que o pesquisador persistiria em tomar por referência o sensível imediato irreversível? E por que ele se incomodaria com uma observação direta anterior ao registro do processo? Sem desprezar a observação direta, vemos a possibilidade de substituir as formas clássicas de pesquisa por todo um processo metodológico e técnico capaz de tirar o maior proveito do audiovisual. Pensamos que o filme pode — e deve — libertar-se da condição de simples veículo para a exposição de resultados obtidos por intermédio de meios extra-cinematográficos de observação e de enquete e tornar-se em si mesmo um instrumento de descoberta progressiva e sui generis. |
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Bibliografia | Claudine de France. Cinema e Antropologia. Campinas, SP, Editora da Unicamp, 1998.
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