ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | A herança- A violência de Ozualdo Candeias entre o popular e o erudito |
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Autor | Rodrigo Cazes Costa |
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Resumo Expandido | Esta comunicação tem por objetivo investigar o filme A herança, de Ozualdo Candeias. Meu interesse no filme é a compreensão dos mecanismos pelos quais Candeias articula sua transcriação de Hamlet para o cinema, tornando o filme um objeto artístico ainda atual, em suas questões estético-políticas. Candeias equilibra, em seu filme, a utilização de elementos oriundos do universo popular, em variadas significações de tal termo e do universo do cinema moderno (BAZIN, 1991), do cinema da imagem-tempo (DELEUZE, 2005), enfim, de um cinema erudito. O personagem de Hamlet é interpretado pelo ator David Cardoso, ligado ao universo do cinema popular da Boca do Lixo, e o filme é ambientado no Brasil rural, em algum tempo indeterminado, aproveitando elementos característicos do interior brasileiro, provavelmente do interior paulista, bem conhecido por Ozualdo Candeias e que seria aproveitado, como ambiente, em outros filmes do diretor.
Tal articulação desses dois estilos de linguagem, somada ao fato de que o filme não possui diálogos, apenas som ambiente e expressões guturais dos personagens, além da presença da música com forte carga semântica, cria uma atmosfera de estranhamento que leva o filme a uma expressão extremamente violenta da realidade brasileira. Tal realidade, existente à época em que o filme foi realizado, não se modificou de maneira radical. Permanece a violência de fundamentação social. Talvez o cenário seja outro, saiu do campo para a cidade, mas a problemática é a mesma. A modificação empregada por Candeias no final da peça (em A herança o personagem de Hamlet doa suas terras para os pobres da regiao, em carta lida por Fortimbrás ao final do filme) é fator fundamental para a compreensão da dimensão política que o filme pretende contestar, mas não deve ser vista como fator único dentro da construção fílmico-política empregada por Candeias. Esse aspecto deve ser visto em conjunto com o uso moderno que o cineasta apresenta da linguagem cinematográfica, através de seus movimentos de câmera, muitas vezes feitos com ela na mão do próprio diretor, que buscam aproximações inusitadas com os rostos e os corpos dos atores. Em sua montagem, Candeias mescla cenas em que se pratica um típico cinema de observação neo-realista com outras nas quais ele pratica um cinema de ação, transformando a tragédia Shakespereana em um western brasileiro. Pretendo, então, considerar como a combinação dos fatores estético-políticos citados fez de A herança um filme, ou melhor, um objeto artístico, no qual a crítica do Brasil encontra poucos paralelos. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques e outros. A estética do filme. Papirus, Campinas, 2007.
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