ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | A MPB nas trilhas do cinema brasileiro contemporâneo |
|
Autor | Marcia Regina Carvalho da Silva |
|
Resumo Expandido | A partir da década de 90, muitas transformações na produção musical com composições de qualidade que apresentam pluralidade de ritmos e gêneros musicais, rica expressão de música popular, instrumental e de canto; e também com a revitalização da criação de canções dirigidas pelas gravadoras, se expandem no cinema narrativo e na produção de documentários que apresentam um diálogo mais evidente com a música. São exemplos, desde produções como O rap do pequeno príncipe contra as Almas Sebosas (2000), de Paulo Caldas e Marcelo Luna, que conta a trajetória de um matador e de um músico que tiveram suas vidas entrelaçadas na periferia do Recife, mas que optaram por armas diferentes, misturando ritmo e poesia através da captação da imagem e edição sonora inspirada no hip hop brasileiro, até os filmes que elegem temas e personagens da produção musical brasileira, entre eles: Nelson Freire (2003), dirigido por João Moreira Salles, que privilegia o plano-seqüência para escancarar a sensibilidade do pianista; Paulinho da Viola: Meu tempo é hoje (2003), com direção de Izabel Jaguaribe, ou Vinicius (2005), com direção de Miguel Faria Jr..
Pode-se afirmar que a maior tendência na trilha musical a partir dos anos 2000 seja o emprego da canção para a construção sonora de uma época, colocando em destaque a aplicação prática das técnicas de pesquisa musical e a elaboração de paisagens sonoras. Com esta concepção, o filme Madame Satã (2002), de Karim Aïnouz, utiliza as canções “Se você jurar”, de Ismael Silva e Francisco Alves, “Fita amarela”, de Noel Rosa, ou “Ao romper da aurora”, de Silva, Alves e Lamartine Babo para reconstituir a sonoridade da Lapa, no Rio de Janeiro do final dos anos 30. Já em Durval Discos (2002), de Anna Muylaert, André Abujamra faz a música original do filme, com a colaboração de Pena Schmidt que coordenou a escolha das canções do repertório do personagem principal (interpretado por Ary França), proprietário de uma loja de discos de vitrola. Os temas instrumentais compostos para o filme são utilizados com a função de criar uma dimensão lírica para a estória, enquanto as canções se integram de maneira quase perfeita na narrativa do filme, sem criar videoclipes ou números musicais, com o recorrente uso do source music (todo tipo de intervenção musical no qual a fonte sonora é claramente identificável na imagem) de canções da música popular brasileira da virada dos anos 60 para os anos 70, especificamente elegendo músicas compostas e gravadas entre o ano de 1969 até 1975, no refluxo dos “anos de chumbo” do governo Médici (1969-74). Canções escolhidas para caracterizar a identidade do personagem que vive em exílio ou afastado de seu período histórico, que é marcado pela violência da música compacta (CARVALHO, 2007: 219-226). Também em Cinemas, aspirinas e urubus (2005), dirigido por Marcelo Gomes, os diálogos são acompanhados por uma trilha de canções de sucessos do rádio, com sambas e marchinhas interpretados por Carmen Miranda e Francisco Alves, que reconstituem a passagem das décadas de 30 e 40. Assim, além dos anúncios e do jornalismo do rádio, as canções são a principal fonte de informação para situar a ação na época da Segunda Guerra Mundial. Entre os filmes mais novos, vale ainda lembrar o resgate de histórias e estórias do período de repressão da ditadura militar em O ano em que meus pais saíram de férias (2006), de Cao Hamburger, com música de Beto Villares e edição de som excepcional. Ou com a atenção mais direcionada à História, o filme Batismo de sangue (2007), dirigido por Helvécio Ratton, com música de Marco Antônio Guimarães que reconstrói a sonoridade de luta do final dos anos 60 a partir do rádio, com as canções de Noel Rosa, Chico Buarque e Gilberto Gil. |
|
Bibliografia | CARVALHO, Marcia. A canção popular na história do cinema brasileiro (Tese de doutorado). Campinas: MULTIMEIOS, IA-UNICAMP, 2009.
|