ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Questões estilísticas no novo documentário cearense |
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Autor | Karla Holanda |
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Resumo Expandido | Há uma variedade de características estilísticas presentes em filmes ao longo da história – nos filmes do chamado primeiro cinema, nos do cinema moderno ou nos contemporâneos. Essa perspectiva cronológica é atravessada pela “tese da modernidade”, que explicaria as mudanças estilísticas. Embora não a negue completamente, David Bordwell pondera que a modernidade tem sido a explicação preferida de muitos teóricos, mas nem sempre é convincente. Quando, por exemplo, um filme hoje apresenta montagem rápida e interpretação histriônica, a explicação da tese da modernidade se ajusta. Mas, se o filme é lento, com montagem mínima e interpretação contida, não são identificados os determinantes que produziram esse filme (Bordwell, 2008, p. 320).
Trazendo essa discussão para o campo do documentário, abordaremos um determinado documentário cearense produzido em meados dos anos 2000, relacionando-o ao contexto que o originou. A partir de "As vilas volantes – o verbo contra o vento" (2005, 52’, Alexandre Veras), produzido através do II DocTV, derivaram-se na edição seguinte dois outros DocTVs cearenses com estilos similares – planos longos, explorações formais (visuais e sonoras) e laconismo – "Sábado à noite" (Ivo Lopes, 2006, 52’) e "Uma encruzilhada Aprazível" (2006, 52’, Ruy Vasconcelos). Nos três documentários a equipe é muito próxima e se reveza nas funções. Até bem recentemente, o cinema no Ceará era somente (e apressadamente) associado ao classicismo formal, que embalava os temas igualmente clássicos quando se trata de nordeste: cangaço, religião e miséria. A meta desse determinado documentário cearense de meados dos anos 2000 parece ser abalar radicalmente essa concepção, deixando nítido o distanciamento que busca estabelecer de todo ranço tradicional. Centrando-se em "Sábado à noite": à semelhança das suítes metropolitanas dos anos 1920 - como "Berlim, sinfonia de uma metrópole", "Apenas as horas", "São Paulo, sinfonia da metrópole" -, pode-se dizer que o documentário cearense registra, não um dia, mas uma noite de sábado na cidade de Fortaleza, iniciando com um plano de dentro do carro com a câmera filmando a partir do vidro traseiro – início da jornada - e terminando com um vigia noturno trocando sua farda por uma roupa à paisana no fim da noite que começa a ceder lugar ao dia. Mas, diferente das suítes, os planos são longos – muito longos - e não parecem interessados em estabelecer sentidos entre si, o som se pretende somente diegético e o fim parecem ser as explorações visuais e sonoras dentro de uma proposta não-narrativa. Nele, certamente o efeito do ritmo do mundo acelerado da modernidade não explicaria suas opções estilísticas. Para contemplar outras explicações que não se ajustam à “tese da modernidade”, Bordwell lança sua teoria fundada na análise estilística a partir do “ofício do diretor”, sustentada por três questões: o paradigma do problema/solução, os diretores como agentes sociais e o cinema como atividade transcultural (BORDWELL, p. 320-342). Nesse sentido, relacionando esse "novo" documentário cearense a tais questões, veremos que a solução que ele encontra para seus problemas estilísticos vem, muitas vezes, da influência de diretores de culturas distantes, cada vez mais possíveis de serem acessados através da internet, DVDs, festivais e mostras específicas. E o que é recebido é re-significado, manifesto através das características de enquadramento, iluminação, comprimento de lentes, montagem e desenho sonoro, inscrevendo-se sobre a aparência do mundo tal qual experimentam. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Campinas, Papirus, 2008.
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