ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | O Palhaço Degolado e os estilhaços da Cultura Brasileira. |
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Autor | Francisco Aristides de O. S. Filho |
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Resumo Expandido | O presente trabalho faz parte do projeto de mestrado em História do Brasil da Universidade Federal do Piauí,onde se amplia as discussões sobre teoria da cultura brasileira,utilizando o super-8 “O Palhaço Degolado” (1977),coordenado por Jomard Muniz de Britto,como um instrumento através do qual podemos refletir como este audiovisual é um elemento histórico que reflete as angústias de uma época,marcada por um debate em torno da significação da “Cultura Brasileira”,possibilitando compreensão das condições históricas em que o filme foi produzido,bem como sua particularidade de problematizar as paisagens construídas pela inscrição de uma identidade nordestina,promovida pelo pensamento tropicológico armorial,em tempos de repressão cultural impostas pelo regime militar. Aprofundamos o estudo sobre a concepção armorial de cultura em Pernambuco na década de 70 do século XX,centrado na imagem de Ariano Suassuna,para que seja possível realizar as devidas conexões entre seu pensamento e as chaves teóricas que influenciam a formulação do Movimento Armorial (1970) e a construção da paisagem cultural nordestina (VENTURA, 2007),compreendendo as teorias fundamentais na cristalização do conceito “Cultura Brasileira” tão debatido pelos tropicalistas,aqui condensados no filme de Jomard Muniz de Britto. Para o Movimento Armorial,o Nordeste é visualizado como um espaço privilegiado e guardião daquilo que o Brasil tem de mais original.A identificação com o território se dá pela idealização que este contém pela “união dos contrários”, aspecto primordial para a formação da cultura brasileira,dispositivo que se conecta ao pensamento tropicológico freyreano com as concepções armoriais, expressas conjuntamente ao que intitulamos “brasilidade”. As idéias convergentes entre o regionalismo e o armorialismo se dão pela crença dos dois movimentos na idéia de originalidade da nação a partir da mestiçagem como fator particular da cultura nacional.Também como a “crença na idéia de que a repetição pura e simples dos signos culturais e valores que vêm de fora podem representar uma ameaça para a nossa soberania (ALBUQUERQUE JR, Apud : LIMA BRITTO, 2005)” e autonomia do povo brasileiro,motivo que reforça a necessidade de preservar a cultura e a identidade do meio externo, movimentando-se entre reação e resistência. As fronteiras se tornam rígidas e o discurso sobre o passado vira algo absolutizado (CANCLINI, 2003),para que se entenda a cultura e a identidade como dispositivos que rejeitam os modos diferenciados de trilhar novas vias interpretativas sobre a história,bloqueando as possibilidades de modificação de significado da realidade cultural.A identidade é cerceada em blocos e espaços que condensam todos os agrupamentos simbólicos em coleções de discursos, que são devidamente ordenadas,que se afirmam como “autênticas” do Nordeste. O estudo de “Palhaço Degolado” possibilita a oportunidade de compreender os começos conflituosos que levaram a construção dos discursos regionais no Nordeste (CUNHA, IN: BRITTO, 1992),bem como o investimento para imprimir sua legitimação. O filme não pode ser encarado como um simples ataque ao processo de institucionalização da cultura nordestina e brasileira,mas uma forma de expor duas perspectivas em torno desta concepção,que seria a “oficial” (tropicologia armorial) e a dita “marginalizada” do processo histórico,representada no super-8 tropicalista como meio de entrelaçar o conhecimento do espectador nas contradições entre ambas.Uma crítica aos autoritarismos culturais e à possibilidade de uma releitura ou da construção de um novo inventário da cultura brasileira agindo sobre a pernambucanidade para abrir sentido ao novo,mas sem descaracterizar as raízes que compõem a brasilidade,no impulso desejante de continuar friccionando a tradição numa vanguarda nem “heróica nem historicista,mas em busca permanente porque mutante das novas linguagens para a contemporaneidade (MAIA JR, 2009)”. |
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Bibliografia | CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas Híbridas: Estratégias para entrar e sair da Modernidade. 4ed. São Paulo: USP, 2003.
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