ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Cinema de intimidade: proposta de gênero para o novo cinema brasileiro |
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Autor | Lina Rocha Fernandes Távora |
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Resumo Expandido | A segmentação de obras em gênero tem uma existência forte nas diversas artes. O gênero cinematográfico funciona como uma advertência ao público na hora de escolher a qual filme assistir. A partir da comparação com outras obras dentro da mesma classificação, o espectador terá noção se apreciará ou não a película. Para Robert Stam, que elenca uma série de “dúvidas permanentes” sobre a teoria dos gêneros, há uma certeza: “a temática é o critério mais débil para o agrupamento genérico, por não levar em consideração a forma como o tema é tratado” (2003: 28). Assim, não é apenas o conteúdo que deve caracterizar o “cinema de intimidade”, mas, também sua estética.
Hoje, porém, com o chamado cinema pós-moderno, fica cada vez mais difícil encaixar as produções em apenas um gênero específico. O cinema pós-moderno passa a valorizar a hibridização de linguagens e estilos. Há ainda a construção de filmes que apresentam paródias ou pastiches. Apesar disso, o fenômeno não perde força na indústria cinematográfica. Mesmo relacionando os estudos de gêneros especificamente à indústria hollywoodiana, para o teórico Steve Neale, “depois de um período longo de negligência, há sinais de significativo retorno de interesse em relação à temática gênero e Hollywood” (2009: 1). Nicholas Vachel Lindsay nasceu em Springfield, Ilinóis, nos Estados Unidos, no dia 10 de novembro de 1879, e suicidou-se em 1931. Formado em pintura no Art Institute de Chicago, Lindsay é, antes de tudo, um poeta. Ele fez parte do grupo conhecido como a “Renascença de Chicago”, juntamente com Carl Sandburg e Edgar Lee Master, entre outros. Em 1915, Lindsay publica pela primeira vez o livro-ensaio “The art of the moving picture”. A publicação, revisada pelo autor em 1922, aborda diversas questões sobre cinema, como a sistematização de seus gêneros: Cinema de Ação, Cinema de Intimidade e Cinema de Esplendor. Este último é subdividido em: Cinema de Esplendor Mágico, Cinema de Esplendor das Multidões, Cinema de Esplendor Patriótico e Cinema de Esplendor Religioso. O cinema de intimidade, para Lindsay, não é um produto comercial, mas um filme de arte. Para o autor, o gênero intimidade é um meio para se estudar os humores dos seres humanos. Os filmes de intimidade podem revelar as idiossincrasias humanas. “Ele narra nossos pequenos conflitos, mais que nossas grandes batalhas” (LINDSAY, 1922). O cinema de intimidade define-se pela forma como os temas são tratados, primando pelos espaços internos e pela proximidade dada entre os espectadores e os dramas individuais dos personagens. A partir dessa aproximação com os personagens, a audiência torna-se, para o teórico, privilegiada. É possível entender que esta proximidade, além de ocorrer por revelar os dramas mais íntimos dos personagens, é dada pela utilização de planos médios e close-ups. Cenas do cotidiano foram representadas no cinema desde os seus primórdios. “Lumière teve a intuição genial de filmar e projetar como espetáculo o que não é espetáculo: a vida prosaica, os transeuntes a ocuparem-se dos seus assuntos” (MORIN, 1980: 20). No contexto brasileiro, como se relaciona cinema e cotidiano? Percebe-se que o cinema brasileiro, por suas próprias contradições e desigualdades tão características, poderia assumir como gêneros próprios o “filme favela” ou o “cinema sertão”. Filmes que, em sua maioria, apostam na estética da violência, do excesso e da crueldade. Quais são, porém, os filmes de intimidade, as comédias de costumes, os romances, os dramas pessoais no cinema nacional? A partir destes questionamentos e seguindo a linha de teóricos do cinema nacional que acreditam que o cinema brasileiro vem se aproximando das questões e dos espaços da intimidade (como Denilson Lopes, Luiz Zanin Oricchio ou Lúcia Nagib), é que se pretende atualizar o gênero proposto por Lindsay. O que se quer é propor um gênero que dialogue com a genealogia intimista do cinema nacional, em crescimento atualmente. |
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Bibliografia | BENTES, Ivana. Sertões e favelas no cinema brasileiro contemporâneo. ALCEU: Revista de Comunicação, Cultura e Política, v.8, n.15, 2007. RJ: PUC, Dep. de Comunicação Social.
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