ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Entre terras e telas: o movimento camponês no documentário brasileiro |
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Autor | Gabriel de Barcelos Sotomaior |
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Resumo Expandido | O presente projeto de pesquisa iniciou-se em 2010, no Doutorado em Multimeios da Unicamp e é financiado pela Fapesp. Propõe o estudo do movimento camponês no documentário brasileiro e a análise, a partir disso, das transformações do documentarismo brasileiro (e do documentarismo militante, em especial), além da luta pelo visível nos processos político-comunicacionais contemporâneos e da apropriação do uso das imagens pelos movimentos populares. Para isso, se estudará a realização dos coletivos de comunicação do MST e Via Campesina, além de outras produções envolvidas com o tema, onde serão acompanhados os processos de pré-produção, produção, pós-produção, exibição e recepção. Será feito, também, um levantamento e análise de alguns documentários que representaram a luta pela terra no país.
Para esta apresentação na Socine, pretendo trazer, além da base teórica do projeto, as primeiras conclusões do trabalho de campo no acompanhamento da realização fílmica, além da análise de alguns filmes já realizados, como "Sem-Terrinha em Movimento" e "Nas terras do Bem-Virá". A pesquisa pretende compreender as produções militantes no contexto de luta pelo visível e pela construção de imagens de resistência. Como eixo teórico estará a luta pela visibilidade, a disputa no campo das imagens e a afirmação do sujeito na tela. Para isso, algumas referências serão importantes. Parte-se da afirmação de Béla Balazs (2008, p. 79) em relação ao advento do cinema, meio onde “o homem tornou-se novamente visível”. Para Benjamin (1993, p. 183 e 184), (tendo em mente os filmes de “atualidades” soviéticos da década de 30), no cinema os indivíduos comuns têm a possibilidade de aparecer na tela. Portanto, conclui que “(...) cada pessoa (...) pode reivindicar o direito de ser filmada.” Nestes filmes as pessoas se “auto-representam”, na maioria das vezes em seu local de trabalho. O autor faz uma analogia destas possibilidades do cinema com alguns modelos de jornalismo e os seus espaços abertos para colaboradores, onde a classe operária poderia produzir textos, quebrando a separação entre leitores e escritores. Benjamin já chamava a atenção para as possibilidades autorais do corpo real filmado, que se afirma como sujeito diante da tela. Bill Nicholls (2008, p. 26) acredita que os documentários tornam “tangíveis os aspectos de um mundo que já compartilhamos. Torna visível e audível, de maneira distinta, a matéria de que é feita a realidade social, de acordo com a seleção e a organização realizada pelo cineasta”. Para o autor, “essas visões colocam diante de nós questões sociais e atualidades, problemas recorrentes e soluções possíveis” Para ele (Ibidem, p. 27) “o vínculo entre o documentário e o mundo histórico é forte e profundo”. Nicholls fala de um “engajamento com o mundo”. Muitos autores e organizações têm a consciência da importância destes filmes para o entendimento e modificação da realidade e para a concretização de uma resistência midiática frente às imagens estereotipadas e marginalizantes. Para Esther Hamburguer (2005, p. 214) existe uma “disputa pelo controle sobre as imagens que serão veiculadas”. Há uma luta para saber e influenciar como e onde elas serão transmitidas, fazendo parte de uma importante estratégia no espaço contemporâneo. Hamburguer acredita que as diferentes formas de manifestação de sujeitos excluídos fazem parte de uma luta cada vez mais intensa de “inclusão plena no que é socialmente visível.” (Ibidem). Desta forma, pelos motivos mais variados possíveis, se forja uma luta constante contra a invisibilidade. O documentário brasileiro, que vem crescendo em público e interesse e se desenvolvendo de diferentes formas, tem sido um poderoso instrumento de visibilidade para grupos, fatos sociais e conflitos diversos dentro da nossa sociedade. Estudar a produção alternativa e militante é essencial para compreender esta luta cultural e política da contemporaneidade. |
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Bibliografia | BALÁZS, Béla. “O homem visível”. In: XAVIER, Ismail (org.) A experiência do cinema. São Paulo: Graal, 2008
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