ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Happening e teatro de vanguarda no cinema de Alejandro Jodorowsky |
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Autor | Estevão de Pinho Garcia |
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Resumo Expandido | Alejandro Jodorowsky antes de estrear na realização cinematográfica com Fando y Lis (México, 1967) havia construído uma significativa trajetória nos meios vanguardistas parisienses e mexicanos onde a sua principal aérea de atuação se concentrou no teatro de vanguarda e na execução de happenings. No período que se situa entre a sua chegada ao México em 1960 e a realização de seu primeiro longa-metragem, o artista chileno encenou uma surpreendente quantidade de peças de teatro e promoveu uma série de happenings, denominados por ele como Efímeros Pánicos. Nossa proposta é exatamente detectar e analisar determinados princípios estéticos e ideológicos característicos do happening e do teatro de vanguarda no cinema de Alejandro Jodorowsky. Quais seriam esses princípios e como eles foram aplicados e redimensionados no cinema? De que forma Jodorowsky transfere para o cinema a experiência e o imaginário adquiridos com a realização dos Éfimeros Pánicos e com a sua atuação no teatro de vanguarda? Abordaremos os três filmes mexicanos do diretor realizados entre os anos 60 e 70: Fando y Liz, El Topo (1969) e La montaña sagrada (1972) com maior ênfase neste último.
A principal marca do “teatro de vanguarda”, nos termos do historiador Cristopher Innes, é a sua aspiração à transcendência e ao espiritual em seu sentido mais amplo, portanto, um teatro materialista ou “de mensagem” será por ele freqüentemente rechaçado. Trata-se de um teatro que produzirá obras que representam arquétipos ou sonhos, onde são empregadas estruturas ritualísticas. Um teatro que substitui a comunicação verbal por símbolos visuais e pautas de som e promove una intensa participação do público objetivando despertar respostas subliminais baseando-se no subconsciente. A demolição da quarta parede ou da ilusão de realidade não objetiva mais estimular a razão crítica do espectador e sim se constrói através da fusão entre público e ação. O espectador se transforma em ator, a sua participação agora é física e sensorial. A sua apreensão da obra não é mais ditada pela linguagem ou pela estrutura verbal e sim pelo intermédio de seu próprio corpo, em um ritual onde o objetivo é induzir estados de transe e de êxtase em una explosão convulsiva.O elemento mais significativo do “teatro de vanguarda” seria a sua insistência em uma revolução espiritual. Jodorowsky transfere para o seu cinema esses princípios e conceitos característicos do teatro de vanguarda. Se através de seu discurso e de seus filmes parece bastante explícito que Jodorowsky está a favor de uma revolução espiritual e de um cinema iniciático, também é bastante evidente que esses objetivos foram percebidos pela grande maioria da crítica como estranhos e incompatíveis ao cinema. O uso “exagerado” de símbolos e a mistura de performance, cerimônias ritualísticas com iconografias oriundas das mais diferentes religiões e ciências místicas foi sentido como algo “fora de lugar”. Algo que não encontrava muita ressonância nem mesmo em outras experiências cinematográficas de vanguarda daquele momento. Jodorowsky expande a sua crença no potencial mágico, transformador e sagrado do teatro para o cinema. O realizador almejará alcançar com o cinema o mesmo que almejava com o seu teatro. A sua concepçao de arte é a mesma, independente do meio em que esteja trabalhando.Não há limites, não há pudores, não há moral, a única ética que deve existir é a própria ética da criação artística. A arte possui a sua própria ética e suas próprias leis, e se a arte é antes de tudo um espaço sagrado, a sua ética lhe permite a execução de rituais de sacrifício ou de violência purificadora. O sacrifício é um exemplo de “ação violenta e concentrada”, nos termos de Antonin Artaud. Se entendemos que a grande responsabilidade de transformaçao conferida por Jodorowsky ao teatro se expande ao cinema , fica claro que Jodorowsky também levará o seu cinema até as suas últimas conseqüências. |
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Bibliografia | ALCAZAR, Josefina, FUENTES Fernando. “La historia del performance en México” in Performance y arte-acción en América Latina. México: Exteresa / Ediciones sin nombre / Citru, 2005.
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