ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Manifesto de Recife e Dogma Feijoada: auto-representação e modernidade negra |
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Autor | Noel dos Santos Carvalho |
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Resumo Expandido | O negro foi presença constante no cinema brasileiro. Desde o período silencioso ele aparece, seja nas bordas dos titubeantes enquadramentos dos primeiros documentários, seja nas formas estereotipadas dos filmes ficcionais (RODRIGUES, 1988; STAM, 1997).
A partir dos anos 1930, quando a cultura negra foi apropriada pela ideologia nacionalista (GUIMARAES, 2002; FRY, 1982), os artistas negros encontraram abrigo nas chanchadas. É deste período o primeiro cineasta negro, Cajado Filho, uma dos trabalhadores mais prolíficos do cinema brasileiro. Cajado trabalhou em mais de uma centena de filmes como roteirista, cenógrafo, assistente de direção e diretor de arte. Dirigiu os filmes: Estou ai (1949), Todos por um (1949), O falso detetive (1950), E o espetáculo continua (1958) e Ai vem alegria (1959). Foi colaborador próximo dos mais talentosos diretores do período entre os quais Moacyr Fenelon e Carlos Manga (MIRANDA; RAMOS, 2000). O período subseqüente à chanchada foi marcado pelas tentativas de produzir um cinema para as elites e resultou na diminuição da presença negra nos filmes. No entanto, ainda aqui, ele aparece em filmes fundamentais como Caiçara (1950), Sinhá moça (1953), Ângela (1951), através da principal atriz negra do estúdio Vera Cruz, Ruth de Souza. O negro voltaria às telas com a eclosão do cinema novo e a proposta de um cinema revolucionário. Os cineastas do movimento chegaram a formular a proposta de um cinema negro. Os primeiros filmes do movimento tematizaram a questão racial e a história do negro (CARVALHO, 2007). Alguns dos mais importantes atores e realizadores negros saíram diretamente do movimento como Antônio Pitanga (Na boca do mundo, 1978), Zózimo Bulbul (Abolição, 1988) e Valdir Onofre (As aventuras amorosas de um padeiro, 1976). No atual contexto da retomada da produção cinematográfica artistas, pesquisadores e cineastas questionaram as representações do negro no cinema e na televisão. No inicio da década de 2000 dois movimentos promovidos por atores e cineastas negros formularam propostas nesse sentido. O Manifesto de Recife reivindicou a maior inserção dos afro-brasileiros no cinema, publicidade e televisão. O Dogma Feijoada, em tom provocativo, promoveu a criação de um cinema negro a partir de sete “mandamentos”. No decorrer da década alguns destes cineastas realizaram suas primeiras produções dando forma audiovisual às propostas políticas formuladas anteriormente. O cineasta Joel Zito de Araújo realizou os filmes de longa metragem A negação do Brasil (2000), as Filhas do vento (2004), Um show de diversidade (2008) e Cinderelas lobos e um príncipe encantado (2009); Daniel Santiago e Lílian Santiago realizaram Família Alcântara (2005); Jéferson De realizou Distraída para a morte (2001), Carolina (2003), Narciso Rap (2004) e o longa metragem Brodér (2010); Rogério de Moura realizou A revolta do videotape (2001), Velhos, viúvos e malvados (2004) e o longa metragem Bom dia eternidade (2009); Ari Candido filmou O rito de Ismael Ivo (2008) e O moleque (2008). Esta comunicação pretende analisar os filmes dos dois movimentos a partir das suas características recorrentes: 1) a denúncia do preconceito racial, bandeira antiga dos movimentos negros (HANCHARD, 2001); 2) performances audiovisuais em que se tematizam a identidade a partir de histórias de opressão compartilhadas (CUTLER; KLOTMAN, 1999; HALL, 2003), e 3) o diálogo com o cinema brasileiro e o cinema negro estadunidense. |
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Bibliografia | CARVALHO, N. S., Dois ensaios de sistematização da questão racial no cinema: o contexto do Cinema Novo. In: SOUZA, Edileuza Penha de. Negritude, cinema e educação. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007
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