ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | A montagem minimalista de Peter Greenaway |
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Autor | João Luiz Leocadio da Nova |
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Resumo Expandido | Partimos do conceito de camada de imagem, terminologia surgida com a inovação das técnicas de edição digital desenvolvidas no final dos anos 80, nas quais os fragmentos de montagem são organizados em clipes e ordenados um ao lado do outro ou um acima do outro e, na maioria das vezes, isso tudo combinado, para analisar a obra de Peter Greenaway e caracterizar como minimalista uma nova categoria de montagem a ser considerada dentro do amplo quadro teórico formulado por Eisenstein.
A camada de imagem é um aspecto da composição visual de uso corriqueiro nas artes plásticas a partir dos anos 80, que já estava presente no cinema desde os anos 20. É fato que a tecnologia do vídeo aprimorou modos de intervenção estética potencializando e diversificando o que anteriormente era obtido com o uso de sistemas óticos. Ressalta-se, entretanto, que reside em cada camada características como profundidade, expessura, textura, volume, efeitos, trucagens e toda riqueza de elementos cinematográficos da imagem audiovisual. A independência das camadas permite aplicar efeitos de transição entre duas imagens como wipes, fade in, fade out, mix, assim como dividir o quadro em duas e quatro janelas numa espessura de imagem que não inclui, necessariamente, qualquer alteração da camada inferior. Efeitos de compressão e reajustamento da altura e da largura da imagem possibilitaram, por exemplo, a Peter Greenaway criar suas talking heads, uma de suas marcas em filmes mais recentes. Até realizar TV Dante, em 1988, Greenaway estava subordinado aos limites do quadrilátero da imagem em uma única camada e nela praticava as suas intervenções cenográficas e adotava as categorias de montagem em sintonia com a dramaturgia da forma enunciada por Eisenstein. A montagem no interior do plano construída numa relação fixa espaço-tempo foi ampliada para incorporar as diversas dimensões das múltiplas camadas com diferentes relações entre espaço e tempo. É possível notar na obra de Greenaway, no percurso de 1989 a 2004, que a presença de uma única camada de imagem diminui na medida em que aumenta o domínio da tecnologia de múltiplas camadas. Uma comparação direta entre A Última Tempestade (1991) e a trilogia Tulse Luper (2003–2004) evidencia uma drástica redução do tempo de composição do quadro e um exponencial aumento do número de camadas e de complexidade de opções para harmonizar. Ao analisar mais de perto essa constatação observa-se variações entre o número de camadas de imagens e a duração de cada fragmento de cada camada, sem significar uma simples mudança quantitativa mas um ensaio quali-quantitativo. Não há fórmulas que se repetem. São soluções particulares que embora sejam cíclicas não são sempre iguais. O incremento de camadas e a sua duração sofrem experimentações que denotam a não padronização, não uniformização, não uma fórmula, mas um elemento de expressão artística modulada por repetições e interações características da música minimalista, que o acompanha desde os anos 60 na parceria com Michael Nyman. A montagem interna formulada por Sergei Eisenstein para uma única camada de imagem tem a ver com a construção da imagem em uma única espessura. Com o uso de múltiplas telas onde cada camada tem uma construção interna própria e relações distintas entre as variáveis espaço-tempo, é necessário diferenciar e marcar essa nova modalidade de montagem. |
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Bibliografia | DUBOIS, Philippe. Cinema, video, Godard. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
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