ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Crianças restaurando a infância do cinema |
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Autor | Adriana Mabel Fresquet |
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Resumo Expandido | Nesse 28 de dezembro, o que apareceu na tela do “Grand Café”? Uns filmes curtinhos, filmados com a câmara parada, em preto e branco e sem som. Um em especial emocionou o público: a vista de um trem chegando na estação, filmada de tal forma que a locomotiva vinha vindo de longe e enchia a tela como se fosse projetar sobre a platéia. (Bernardet, 2006, p. 12)
Muitos sairam espantados da sala. Hoje cada vez menos, mas só algumas crianças e muito pequenas, poderiam acreditar nessa ilusão. Dessa impressão de realidade da que advêm o sucesso e a magia do cinema, segundo Jean-Claude Bernardet, está impregnada a imaginação infantil. Eles, como ninguém, fazem de conta que todo é possível (Vigotski, 2000). Vestir a fantasia de um diretor de cinema é uma possibilidade de entender o brincar como coisa séria. Desprovidos de medos e vergonhas se colocam cara a cara com o fazer. E o cinema nos coloca “cara a cara” com a infância, afirma Bazin. Neste trabalho, pretendemos nos colocar “cara a cara” com essa criança que na sua experiência de aprender os gestos necessários para fazer um plano restaura a própria infância do cinema. Na tentativa de aproximar o cinema da educação como possibilidade de “fazer arte” na escola, descobrimos as pegadas de Alain Bergala e Nathalie Bourgeois. Eles idealizaram os Minutos Lumière como atividades pedagógicas da Cinémathèque française. Com as devidas adaptações, organizamos algumas aulas no marco das atividades da Escola de Cinema do Colégio de Aplicação da UFRJ (projeto experimental e piloto para um público infanto-juvenil criada em 2008) e convidamos aos participantes a realizar o seu próprio minuto. Para isso, introduzimos as crianças no conceito de plano, uma noção básica dos gestos cinematográficos e nos primórdios da história de cinema. Podemos afirmar com Bergala, que quando alguém se encontra no que há de originário no ato cinematográfico, se torna o primeiro cineasta, de Louis Lumière até uma criança de hoje. Fazer um plano nos situa no coração do ato cinematográfico. No simples ato de captar um minuto, está toda a potência do cinema e, no enquadramento, descobrimos um mundo que sempre nos surpreende. (2002, p. 206) Apôs projetar alguns filmes dos Irmãos Lumière, e alguns trechos editados do filme de Lumière & Cia (1995), ensaiamos a realização de alguns planos como se a filmadora digital tivesse as limitações do cinematógrafo. Primeiro, na própria escola, depois em algumas locações próximas. O importante foi levar em consideração os gestos cinematográficos de escolha, disposição e ataque (Bergala, 2002, p. 133) e algumas idéias gerais do que queriam produzir como produto audiovisual final, a posteriori. A visualização coletiva dos minutos e sua análise permitem fazer uma certa experiência do cinema (Xavier, 1983) Aliás, propriamente de uma certa infância do cinema, com a qual compartem uma certa ingenuidade e espírito de descoberta. As crianças se colocam como autoras dos planos e endereçam seu olhar para ver um mundo através dos enquadramentos onde sempre há espaço para a emergência do novo. Acreditamos que esta seja uma proposta simples que ilustra a potência pedagógica do cinema e inspira atividades concretas possíveis de serem realizadas na Educação Básica. Neste sentido, sabemos que grandes cineastas têm falado da pertinência e da simplicidade do encontro do cinema com a infância, entre eles Renoir, Truffaut, Win Wenders, Bazin, entre outros. Aqui, pretendemos ir além e provocar a possibilidade de que este encontro não fique apenas com uma criança espectadora, e sim com uma criança capaz de fazer uma introdução a uma experiência do cinema outra, se apropriando de parte de sua história e reinventando-a ou restaurando-a enquanto aprende detalhes e beliscos do universo cinematográfico. |
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Bibliografia | BERGALA, Alain. L’hipothèse cinéma. Petit traité de transmission du cinema à l’ecole et ailleurs, Paris: Cahiers du Cinema, 2006.
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