ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | A autoficção no documentarismo latino-americano contemporâneo |
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Autor | Carolina Dias de Almeida Berger |
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Resumo Expandido | No período contemporâneo, de consolidação da produção de documentários, em quantidade, qualidade e receptividade do público, se evidencia uma tendência `a autorreferencialidade narrativa. Surgem obras moldadas por narrativas e estratégias de mise-en-sc`ene escolhidas e articuladas para indagar aspectos como a questão da visão em primeira pessoa, da experiência do vivido e do filmado, assim como a reivindicação de um espaço para questões íntimas memoráveis, mais recorrentes na ficção.
Dentro desta tendência de produções cinematográficas autorreferenciais, segundo Comolli , no início dos anos 90, surge uma “nova classe de documentários”, na qual os sujeitos-documentaristas se colocam em cena, assumem suas identidades (nome próprio), seus conflitos e, através da exposição de seus corpos e pensamentos, garantem o estatuto de documento `as imagens. Para ele, nesta tendência, o documentário transforma-se para salvar as imagens cinematográficas de seu puro estatuto de espetáculo e assim, de recuperar-las como documento. Entre as condiciones para esta “garantia documental”, Comolli enumera o que é determinante nestes filmes: que o ator e o personagem sejam um só; que o vínculo corpo-palavra-sujeito-experiência-vida seja garantido a tal ponto que a experiência da rodagem não possa deixar de repercutir no corpo filmado. Estendendo esta teoria, em recentes reflexões sobre documentários autorreferenciais brasileiros contemporâneos - 33 (2001), de Kiko Goiffman e Um passaporte Húngaro, (2001), de Sandra Kogut - Jean-Claude Bernadet identifica uma tendência em que a rodagem é matéria prima da narrativa. Ou seja, são filmes nos quais a história surge da documentação do processo pelos quais os documentaristas passam em buscas pessoais. Como consequencia, o documentarista se transforma em um personagem da historia e a partir dessa conjunção de fatores, ambos documentários são definidos por Bernardet como autoficções. A partir das referências de Comolli e das reflexões de Bernardet, passar-se-á a analisar a autoficção como uma tendência formal da autorreferencialidade narrativa no documentarismo cinematográfico contemporâneo. Analisaremos as duas obras brasileiras citadas juntamente com duas obras argentinas semelhantes: Los rubios (2001), de Albertina Carri, e Yo no sé qué me han hecho tus ojos, de Sérgio Wolf e Lorena Muñoz. As obras foram escolhidas também pela semelhança na abordagem da temática e nos procedimentos estilísticos utilizados. Em Um passaporte húngaro e Los rubios, a partir do objetivo de encontrar informações familiares, as autoras se deparam com um processo que desemboca em uma busca pela definição da própria identidade. Em 33 e em Yo no sé que me han hecho tus ojos, os autores utilizam procedimentos estilísticos do film noir, inclusive colocando-se em cena como personagens-detetives para contar a história de suas buscas. A partir da análise dos procedimentos narrativos e das estratégias formais destas obras, a apresentação irá colocar em debate a constituição formal da autoficção no documentário contemporâneo para entender como estas enunciações produzem renovações estéticas e conceituais para a produção audiovisual. Neste sentido, a apresentação também apresentará uma reflexão sobre as fronteiras entre os recursos expressivos das criações ficcionais e documentais. A relevância, portanto, da identificação da autoficção como uma tendência formal da autorreferencialidade no documentarismo latino-americano contemporâneo parte da reflexão sobre os conteúdos abordados através das formas de expressão singulares que promovem. |
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Bibliografia | ARFUCH, Leonor. El espacio biográfico: Dilemas de la subjetividad contemporánea. Buenos Aires, Fondo Económico de Cultura, 2002.
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