ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | “Play it again, Sam.” Narrativas beckettianas nos meios audiovisuais |
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Autor | Gabriela Borges |
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Resumo Expandido | Esta comunicação pretende discutir as características estéticas, conceituais, estilísticas e mercadológicas do (tele)filme Play, de autoria de Samuel Beckett e direção de Anthony Minguella produzida para o projeto Beckett on Film, em 2001.
A peça de teatro Play, de autoria de Samuel Beckett, foi escrita em 1962-3, produzida primeiramente na Alemanha e na Grã-Bretanha nos anos de 1963 e 1964. Tendo sido produzida diversas vezes no teatro, a peça foi transcriada pela emissora de televisão britânica BBC em 1976, a partir da performance no Royal Court Theatre em Londres. Em 2001, a peça foi transcriada para a televisão e o cinema como parte integrante do projeto Beckett on Film, uma co-produção da televisão pública irlandesa RTÉ, do Channel 4 e do Irish Film Board. O projecto Beckett on film consta da adaptação das dezenove peças de teatro de Samuel Beckett para a televisão e o cinema. Considerando as especificidades do meio audiovisual, tanto o televisivo como o cinematográfico, esta peça apresenta características estéticas, estilísticas e conceituais que funcionam de modo único neste meio e trazem novas interpretações ao trabalho artístico de Samuel Beckett. O (tele)filme de Play foi dirigido por Anthony Minguella, o mesmo director que adaptou e dirigiu os filmes The English Patient (1996) e The Talented Mr Ripley (1999), com a atuação de Alan Rickman, Kristin Scott Thomas e Juliet Stevenson. O enredo consta de três cabeças falantes (um homem e duas mulheres), colocadas dentro de três ânforas, que narram as suas histórias amargas de vida, as quais de certo modo se inter-relacionam, sem que se saiba, ao certo, se elas se correspondem. Esta comunicação tem o intuito, num primeiro momento, de analisar as opções estéticas de Anthony Minguella, que localizou o cenário numa espécie de purgatório dantesco atemporal. As particularidades da linguagem audiovisual fornecem possibilidades de trabalhar com o cenário de um modo diferenciado em relação ao teatro. Do mesmo modo, enquanto no teatro as mudanças entre os diálogos eram marcadas pelos focos de luz, no meio audiovisual passam a ser marcadas pelos enquadramentos da câmera de filmar. Num segundo momento, serão abordadas algumas características estilísticas e conceituais da obra de Beckett e, em especial, da peça e do (tele)filme Play. Pode–se ressaltar a intersemioticidade, a repetição, na sua relação com a diferença, com o hábito e com os mecanismos da memória, os quais são trabalhados ao longo de toda obra beckettiana, tais como nas tele-peças Eh Joe, Ghost trio, ...but the clouds..., Quad I e II Nacht und Träume, e nas transcriações do teatro para a televisão das peças Not I e What Where; adquirindo aspectos idiossincráticos neste trabalho em particular. Os referenciais teóricos para discutir estes conceitos serão os trabalhos de Gilles Deleuze e de Henri Bergson. E, num terceiro momento, serão analisadas as características mercadológicas do projeto Beckett on Film e da sua atuação enquanto um produto audiovisual inserido no mercado global de televisão e cinema. Neste sentido, o principal argumento a ser trabalhado está relacionado ao potencial inerente à televisão de produzir e transmitir programas que apresentem uma qualidade diferenciada, principalmente no que diz respeito ao que se assiste comumente na programação televisiva comercial. Trabalhos como este necessitam de espaço de antena a fim de que possam promover um outro olhar em relação ao meio televisivo, porque afinal de contas este meio, enquanto tecnologia, está disponível para emitir todo e qualquer tipo de narrativa, depende da escolha dos programadores. Finalmente, é importante ressaltar que esta comunicação pretende apresentar alguns resultados da pesquisa “Didaskália: da voz autoral de Beckett à liberdade de criação” que está a ser desenvolvida no Ciac (Centro de Investigação em Artes e Comunicação) da Universidade do Algarve, Portugal. |
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Bibliografia | BECKETT; Samuel. The complete dramatic works. 2ªed. Londres: Faber and Faber Limited, 1990.
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