ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Percursos de Filmes de Estrada na Década de 1950 no Brasil |
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Autor | Samuel Paiva |
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Resumo Expandido | No livro "Historiografia clássica do cinema brasileiro: metodologia e pedagogia", ao estudar gêneros característicos do cinema dos primeiros tempos – os filmes cantantes, os filmes criminais e os filmes de revista –, Jean-Claude Bernardet questiona, em um capítulo intitulado “de recortes e de contextos” (BERNARDET: 1995, p. 65-126), em que medida considerar esses gêneros exclusivamente no âmbito nacional não constitui uma perspectiva redutora para o conhecimento possível sobre eles. Falando a propósito dos filmes criminais, por exemplo, Bernardet critica os historiadores que tendem a enxergar o significativo sucesso de películas inspiradas em crimes ocorridos no Rio de Janeiro ou em São Paulo como resultado do caráter local de tais acontecimentos, apresentando, em contrapartida, argumentos favoráveis a uma percepção internacionalizada do problema. Este ponto é bem oportuno ao universo das questões aqui propostas enquanto estudo do gênero filme de estrada no Brasil considerado na perspectiva intercultural do road movie. Uma vez considerada tal perspectiva metodológica, qual ou quais seriam os contextos favoráveis à compreensão do caráter intercultural do filme de estrada no Brasil? Em que medida, por exemplo, os filmes de estrada realizados neste país poderiam constituir uma referência para a compreensão do gênero road movie em uma perspectiva transnacional? Qual ou quais seriam os recortes oportunos à construção de tal objeto?
Para responder a estas questões, é necessário mapear vertentes – ou, seguindo a sugestão de Bernardet, “linhas de coerência” (Idem: p. 61) – que, fugindo à periodização de corte vertical ou à noção de ciclo, possam considerar a produção brasileira a partir dos filmes de estrada de ficção em uma perspectiva sincrônica, colocando em xeque sentidos culturais específicos (locais, regionais, nacionais), mas sem deixar de considerar que vários aspectos encontrados em seu discurso estão relacionados a dimensões globais do gênero em questão. Assim, esta comunicação está voltada para a análise de dois filmes, a saber, uma produção paulista (Vera Cruz) dirigida por Abílio Pereira de Almeida – "Sai da Frente" (1952) - e uma produção carioca (Herbet Richers) dirigida por Victor Lima – "Pé na Tábua" (1957). A proposta é investigar suas linhas de coerência enquanto filmes de estrada do Brasil dos anos 1950, porém, procurando investigar suas “formas internas” e “formas externas”, respectivamente relacionadas a aspectos temáticos e aspectos de mise-en-scène, segundo a perspectiva de Edward Buscombe (2005) e sua “ideia de gênero no cinema americano”. Desse modo, espera-se encontrar sentidos específicos do filme de estrada no Brasil, porém, compreendidos no campo das tensões transculturais do road movie. Em um momento de afirmação da indústria automobilística no Brasil, assim como de esforços para a produção de um cinema industrial no país, os dois longas-metragens confirmam certas tendências que parecem constituir característica específica dos filmes de estrada brasileiros, por exemplo, ao perseguirem uma dimensão temática relacionada ao 'trabalho' e à 'família' (diferentemente da dimensão de contracultura recorrente na cultura Beat dos Estados Unidos no mesmo período). Mas, por outro lado, no campo da encenação, ambos destacam composições nas quais as máquinas (seja no âmbito dos automóveis, seja no universo do cinema e suas variantes) têm um papel fundamental na construção intercultural dos sentidos de uma modernidade sólida acionada pelo road movie (MOSER: 2008) |
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Bibliografia | BERNARDET, J.C. Historiografia clássica do cinema brasileiro: metodologia e pedagogia. São Paulo: Annablume, 1995.
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