ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Sobre o papel da “passagem” na evolução da representação do movimento em arte |
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Autor | Cristian Borges |
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Resumo Expandido | O movimento vem sendo representado pelas artes visuais, de maneira mais ou menos complexa e problemática, desde pelo menos a Antiguidade greco-romana. Em sua tese de doutorado, publicada em 1893, o historiador de arte alemão Aby Warburg não apenas defendia a supremacia do movimento contra um suposto repouso na arte renascentista italiana – e, em particular, na obra de Sandro Boticcelli –, como afirmava que a necessária amplificação desse “movimento aparente” (expressão que logicamente nos remete ao cinema) advinha justamente dos modelos clássicos: ao agitarem não somente seus personagens, mas principalmente os “acessórios animados externos: vestimentas e cabeleiras” (Warburg). Porém, enquanto que na pintura o movimento se expressava através dos detalhes (de cabelos e roupas, por exemplo), no cinema é o próprio movimento que passa a ser detalhado, decomposto e recomposto, como resultado direto das cronofotografias de Marey e Muybridge, por vezes sacrificando-se uma definição nítida das figuras registradas. Por outro lado, enquanto a fotografia produziria uma espécie de concentração temporal em seu recorte espacial, sobretudo a partir do advento do instantâneo, o cinema processaria uma diluição temporal, justamente através da “passagem”, fundamento da imagem cinematográfica. Deste modo, o caráter algo “fetichista” da imagem fotográfica desapareceria, por assim dizer, diante do movimento aparente reproduzido analogicamente pelo cinema. A “passagem” implicaria a deformação constante e ininterrupta dos componentes da imagem, desde que projetada – o que a aproximaria de outros elementos em fuga, tais como a água, o gás e a corrente elétrica (Valéry). Ela implicaria, ainda, um percurso, apontado por Warburg na virada do século XX, ligando a “imagem em movimento” a um “saber-movimento das imagens” (Didi-Huberman). Diferentemente da pintura e da fotografia, o cinema ultrapassaria, desde o início, a simples “imitação das aparências” para atingir a “restituição da presença” (Michaud). Percebe-se, deste modo, a manifestação numa imagem cinematográfica de um duplo evento relativo à “passagem”: o surgimento e o desaparecimento quase simultâneos das figuras, num vai-e-vem fantasmagórico, parente próximo da “dança serpentina” criada por Loïe Fuller e registrada nos primeiros anos de vida do cinematógrafo Lumière. |
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Bibliografia | Beckman, K.; Ma, J. (ed.). Still Moving: Between Cinema and Photography. Durham/Londres: Duke University Press, 2008.
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