ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Dançando no escuro: uma trilha sonora convergente |
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Autor | Filipe Barros Beltrão |
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Resumo Expandido | A estruturação dos diversos campos de trabalho dentro do cinema tem fomentado a criação de novas profissões e áreas de atuação. Percebemos uma contínua complexidade dos procedimentos e um direcionamento à especificação dos saberes e aptidões. Essa tendência tem ajudado a consolidar as várias áreas de atuação no processo criativo do som para o cinema, contribuindo para um aprimoramento dos sons e da qualidade técnica envolvida. No entanto, esse processo termina por criar áreas estanques de utilização do som, onde os elementos sonoros do filme - música, diálogos e efeitos sonoros – (DANCYGER, 2007) só dialogam na edição e mixagem, tendo o seu processo criativo desenvolvido de forma isolada. A trilha sonora do musical Dançando no Escuro (Lars Von Trier, 2000) apresenta alguns momentos de total integração entre os efeitos sonoros, música e diálogos. O fato do filme ser um musical favorece essa integração, visto que o gênero se caracteriza por uma maior inserção da música dentro do espaço fílmico (CHION, 1995). A grande peculiaridade da trilha deste filme é que as músicas surgem a partir do som-direto das cenas (sons diegéticos). Os sons ambientes vão sendo intensificados, criando um ritmo sequenciado (loop) sobre o qual os elementos musicais vão sendo gradualmente inseridos. A criação de música a partir de sons naturais, industriais e/ou ruídos tem uma longa tradição no campo musical. Desde a “Arte dos ruídos” do músico futurista Luigi Russolo até a música concreta de Pierre Schaffer, o campo musical tentou expandir os limites tradicionais da música. A utilização desta concepção integrada na criação do som no cinema pode trazer contribuições estéticas significativas, como as observadas na trilha de Dançando no escuro. O desenho de som (sound design), realizado por Per Streit, das referidas cenas apresenta um importante efeito narrativo, visto que a personagem principal, Selma Ježková - interpretada pela cantora/atriz Björk - constrói as canções nos seus momentos de devaneios, correspondendo a uma outro estado de consciência e a uma fuga da dura realidade enfrentada por ela na trama do filme. Essa utilização corresponde ao aspecto metadiegético da narrativa sonora (BARBOSA, 2000), onde o som “traduz o imaginário de uma personagem normalmente com o seu estado de espírito alterado ou em alucinação” (BARBOSA, 200, p.2). No caso específico do filme, o diretor se utiliza de um modo particular de discurso metadiegético: o modelo onírico. Segundo essa estrutura narrativa, o personagem “abandona o seu estado sensorial normal da realidade entrando num plano de percepção emocional muito aproximado de um sonho, onde permanece durante algum tempo, retornando bruscamente à realidade (normalmente por efeito de um evento diegético)” (BARBOSA, 2000, p.3). A narrativa sonora onírica acompanha o “universo” lúdico da personagem principal que cria seu próprio musical a partir dos sons da fábrica onde trabalha, do trem em movimento, de uma bandeira agitada pelo vento ou mesmo com os sons dos seus passos. A partir da observação da utilização dos elementos sonoros do filme, podemos observar uma perspectiva convergente dos processos criativos (MACHADO, 2007) e uma interdependência dos sons da trilha. O desenho de som do filme permite criar um atmosfera coerente com a narrativa, potencializar o discurso e caracterizar a personagem central: Selma Ježková. O processo criativo escolhido pelo sound designer envolvido nesta produção cinematográfica nos aponta para a criação de uma trilha complexa e inter-relacionada, indicando novas possibilidades estéticas e criativas. Dançando no escuro lança um novo olhar sobre o gênero musical e uma forma peculiar de estruturar os elementos que compõem a trilha sonora. |
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Bibliografia | BARBOSA, A. 2000. O som em ficção cinematográfica. Reference documentation for the Sound and Image undergraduate Degree at Escola das Artes da U.C.P. Disponível em: |