ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Risos, gritos e lágrimas: assistindo e reagindo à saga Crepúsculo |
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Autor | Pedro Peixoto Curi |
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Resumo Expandido | Crepúsculo, série escrita por Stephenie Meyer composta por quatro livros publicados, foi traduzida para trinta e sete idiomas, vendeu mais de dezessete milhões de copias em todo mundo e conquistou, com os dois primeiros volumes adaptados para o cinema, milhões de fãs em diferentes países do mundo.
Voltada principalmente para o público feminino adolescente, a história de amor impossível entre a humana desastrada e frágil e o vampiro galante e gentil serve como pano de fundo para discussões sobre virgindade e casamento. Temas que, associados à fantasia, chamam ainda mais a atenção de milhões de adolescentes que dedicam parte de suas vidas a esse universo. Os fãs da saga Crepúsculo, que são em sua maioria jovens entre 15 e 25 anos, são conhecidos por serem extremamente apaixonados e, em certa medida, exagerados, sendo, inclusive, mal vistos por outras comunidades de fãs. Em salas de cinema, no consumo doméstico ou em grandes convenções, os fãs de Crepúsculo apresentam comportamentos bem específicos. De casa, muitos fãs tentam compartilhar suas impressões e emoções sobre os livros e adaptações, filmando suas reações em tempo real e colocando o vídeo na internet. No primeiro semestre de 2009, durante o MTV Movie Awards de 2009, prêmio concedido de acordo com o voto popular, Crepúsculo, adaptação do primeiro livro, ganhou todos os prêmios aos quais havia sido indicado. Na ocasião, foi exibido o trailer do segundo filme da saga, Lua Nova. Pouco tempo depois, estavam disponíveis na internet vídeos que mostravam fãs assistindo às primeiras imagens divulgadas do filme. Nesses vídeos, cada cena mostrada no trailer é acompanhada por diferentes expressões faciais, exclamações e blasfêmias. O fenômeno dos vídeos de reação não é novidade e ganhou destaque no final de 2007, com 2 girls and a cup, vídeo de conteúdo pornográfico de aproximadamente um minuto que mostrava duas mulheres em práticas escatológicas. O vídeo causou tanto alvoroço na internet que as pessoas começaram filmar suas reações ao assisti-lo, manifestando asco, repulsa, indignação, incredulidade ou até mesmo soltando risadas altas. Mesmo quem nunca viu o filme original é capaz de imaginar seu conteúdo só de observar a reação daqueles que decidiram compartilhá-la. Ao disponibilizar os vídeos no YouTube as fãs iniciam uma disputa que tem como parâmetro o investimento afetivo e os códigos internos da comunidade de que fazem parte. Essas fãs julgam necessário manifestar seu afeto, para afirmar seu lugar. A partir desses vídeos, tem, ainda, a sensação de compartilhar o mesmo espaço físico, como se abrissem seus quartos para o mundo através da webcam e fizessem uma grande reunião de amigas. A carga emocional empregada no momento da filmagem refletiria, por meio da performance, o envolvimento e a dedicação delas em relação àquele objeto. Nas salas de exibição, onde fãs e espectadores comuns se encontram, a realidade não é muito diferente. Nas adaptações dos dois primeiros livros, durante as mesmas cenas, simultaneamente, as reações eram as mais diversas e podia-a ouvir o choro, os gritos e os risos de diferentes pessoas da platéia, dependendo do grau de envolvimento de cada um com a história. Por mais que a performance de fãs seja mais comum durante shows de música, em resposta à presença do ídolo, em alguns casos a sala de cinema deixa de ser o lugar do silêncio e certos grupos manifestam duas reações interagindo com outras pessoas da platéia ou até mesmo com o filme, respondendo perguntas, repetindo falas ou revelando aquilo que sentem, seja rindo, chorando ou gritando. Este artigo pretende analisar a recepção de Crepúsculo tanto no âmbito público, salas de exibição e encontros de fãs, quanto em uma esfera privada, a partir dos vídeos de reação, para entender como essas reações performáticas se tornam um fator de distinção entre as fãs, mas também de identificação, uma forma de compartilhar sentimentos com o restante da comunidade e também obter seu reconhecimento da comunidade. |
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Bibliografia | CASETTI, Francesco. Eye of the century: Film, experience, modernity. New York: Columbia University Press, 2008.
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