ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Estigmas da autoreflexividade no Dogma 95 |
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Autor | Angelita Maria Bogado |
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Resumo Expandido | Ainda pouco estudado, o Dogma 95 merece uma maior atenção por parte de nós estudiosos do cinema. Desde 1960 o cinema não via uma onda que trouxesse algum tipo de frescor e novidade para a produção fílmica. Estudar um movimento como o Dogma é ter a possibilidade de refletir sobre um modelo que vai além do padrão reducionista do cinema comercial.
Através de uma subversão normativa o Dogma 95 trouxe a possibilidade de uma estética reflexiva e inovadora. Um manifesto que reagiu contra as tendências contemporâneas da indústria cinematográfica e rompeu com o dogma do cinema convencional. A subversão é normativa, porque a liberdade em relação ao cinema industrial, defendida pelo Dogma foi erguida por meio de regras, a liberdade passa inevitavelmente por limitações. Os estudos recentes sobre o Dogma 95 são pesquisas que apontam a importância do movimento, as inovações estéticas introduzidas pelos primeiros filmes, Festa de família e Os idiotas, e como estas obras influenciaram o modo de representação e recepção do cinema pós Dogma. São estudos que salvam o Dogma 95 da primeira crítica, rasa e míope. As pesquisas do nosso grupo de estudos (Dogma 95: uma subversão normativa) apontam, principalmente, para o caráter autoreflexivo do Dogma, o diálogo com as técnicas teatrais (teatro brechtiano) e o emprego do discurso alegórico. O estudo de Bertolt Brecht e da alegoria despertaram a reflexão e a apreciação crítica dos discentes de cinema. Brecht há meio século rompeu com o realismo clássico, com o teatro aristotélico por meio de regras. Criou um esquema que apontava os meios práticos para se realizar um teatro épico. A partir dos preceitos regrados por Brecht e pelo movimento, veremos que o discurso, tanto do Dogma quanto do teatrólogo alemão, esta centrado na reflexão sobre os modos de produção. E ao pensar e modificar os meios de produção, ambos estão preocupados com a perspectiva do espectador. Trier e Brecht colocam o público como agente, um público apto a julgar e criticar a si mesmo e a sociedade. O Dogma tem atraído olhares por diversas razões como: o traço de coletividade, a democratização tecnológica e a humanização do processo. No entanto, pouco foi dito sobre o caráter autoreflexivo do movimento. O estudo da autocrítica, no movimento criado pelos cineastas dinamarqueses Lars Von Trier e Thomas Vinterberg, merece atenção. O caráter de pensar a si mesmo é evidente, mesmo antes de sua estreia nas telas, a Carta manifesto e os seus dez mandamentos determinam um voltar para si. O Dogma põe a si próprio no centro da reflexão, é ao mesmo tempo agente e produto da ação, isto é sujeito e objeto da reflexão. O modelo adotado pelo Dogma para pensar a si mesmo se assemelha ao pensamento filosófico do alemão Johann Gottlieb Fichte (Doutrina da Ciência, publicado em 1794). O Eu de Fichte é forma pura, que ao refletir sobre a sua forma gera a autoconsciência. Seguindo o raciocínio descrito na Doutrina da Ciência, só somos algo a partir de nós mesmos, um eu autodeterminante e autodeterminado possuidor de uma liberdade desmedida e inconcebível até então. Este primeiro princípio da filosofia transcendental de Fichte irá introduzir a possibilidade de uma criação livre e infinita da arte. Este é o espírito do Dogma: ser forma e conteúdo, ver a si mesmo. O mecanismo que estes cineastas encontraram para criticar o cinema e os seus próprios dogmas foi o emprego da alegoria. Este estudo pretende apontar algumas alegorias que se colocam como exemplo modelar da autocriticidade do movimento. A alegoria é operada no Dogma não apenas como modo de produção, mas principalmente como forma de análise e interpretação da obra. Esse manejo da alegoria foi introduzido pelos teólogos como forma de se interpretar os textos sagrados, portanto, a relação do Dogma com o discurso cristão é evidente e se estabelece de forma consciente. Esta pesquisa pretende desvelar o propósito desta estratégia narrativa. |
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Bibliografia | BORNHEIM, Gerd. Brecht a estética do teatro. SP: Graal, 1992
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