ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Imagens do Brasil nos cinemas alemães, os cinejornais de 1934 a 1941 |
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Autor | Thais Blank |
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Resumo Expandido | O trabalho a ser apresentado é resultado de dois anos de pesquisa em torno dos cinejornais realizados pela Ufa no Brasil. Entre 1934 e 1941, a produtora oficial do partido Nazista visitou o país e realizou uma série de cinejornais que estão depositados no Bundesarchiv em Berlim.
Como ponto de partida dessa pesquisa está o desejo de tratar esses filmes como imagens-dialéticas, conceito benjaminiano retomado por Didi-Huberman em “Diante do Tempo: história da arte e anacronismo das imagens”, obra na qual o autor propõe uma nova metodologia para as disciplinas que desejam estudar as imagens. Ao entender esses filmes como imagens-dialéticas nos propusemos a realizar uma história interna das imagens dando a elas a condição de sujeito. O que fizemos foi um exercício de adotar o método benjaminiano de conhecimento pela montagem nos colocando em meio as seqüências cinematográficas, interrompendo o fluxo contínuo do cinema, acrescentando o comentário, lançando um olhar anacrônico sobre as imagens para que a história pudesse ser construída. Nesse processo incorporamos também os conceitos de Didi-Huberman de imagem-semelhança, malicia, sintoma e combate como forma de guiar o olhar. A idéia central dessa pesquisa é a de que as imagens do Brasil realizadas pelos alemães falam principalmente sobre os sonhos e os anseios germânicos, sobre as tensões e as expectativas de uma nação em expansão. Imagens que se por um lado buscam por semelhanças nas colônias alemães do sul do Brasil, por outro, revelam o medo da mistura de sangue, os perigos que ameaçam a raça germânica em um país tropical. Na vasta produção da Ufa não era apenas a propaganda oficial que estava a serviço de interesses políticos. Filmes de ficção, documentários ou cinejornais, todas as linguagens deveriam ser usadas como forma de propagar os ideais do Partido Nacional Socialista. O governo de Hitler se apropriou do poder do cinema de uma maneira até então nunca vista, ele foi o maior expoente de uma nova geração de líderes políticos e militares que inauguraram uma outra forma de se fazer política, onde o poder passava a ser dividido entre “a logística das armas e a logística das imagens e dos sons, entre os gabinetes de guerra, e os escritórios de propaganda” . Os filmes que analisaremos nesse trabalho se inserem nesse contexto, foram feitos em um momento em que o cinema era extremamente explorado como arma ideológica e a produção de imagens estava atravessada pela propaganda. A vinda dos cinegrafistas alemães ao Brasil está por tanto imbuída pelo desejo de usar também as imagens do Brasil como ferramenta ideológica. O que procuramos nessa pesquisa foi entender de que forma a Alemanha nazista se apropriou das imagens desse país para propagar os ideias do Partido Nazista. Os cinco cinejornais realizados pela Ufa no Brasil possuem em comum o projeto pedagógico de ensinar aos alemães como devem ver a si mesmos e aos outros. Um cinema absorvido pela propaganda onde ideologias são encobertas pela linguagem documental, exibindo um atestado de veracidade, de verdade, delimitando identidades e construindo modelos: o bravo colono alemão, a mulata degenerada. Dilemas de uma sociedade faminta pela totalidade que parece ter encontrado no cinema a melhor forma de se expressar, exercendo um controle total da imagem, usando a montagem para tentar ocultar sua inerente fragmentação, tornando o espectador uma testemunha visual do mundo; viajante que atravessa o oceano para encontrar do outro lado a imagem de si mesmo. Porém, apesar do esforço, apesar do controle, acreditamos que as imagens se rebelam, maliciosas, driblam o montador e resistem ao tempo para atualizar o passado. Nesse trabalho falaremos dos cinco cinejornais realizados pelos nazistas no Brasil nas décadas de 1930 e 1940, e de que forma cada um deles encarna os conceitos de Didi-Huberman de imagem-semelhança, imagem-malícia, imagem-sintoma e imagem-combate. |
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Bibliografia | BENJAMIN, Walter. Walter Benjamin, obras escolhidas vol 1. Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Editora Brasiliense, 1996.
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