ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | 'Pacific' e 'Viajo porque preciso...' :Hibridismos, quebras e poesias. |
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Autor | Iomana Rocha de Araújo Silva |
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Resumo Expandido | "Pacific" (2009), do diretor pernambucano Marcelo Pedroso, é um filme realizado a partir de imagens cedidas por turistas participantes de um cruzeiro. São registros subjetivos, feitos por pessoas reais, cada uma em sua individualidade, onde é possível observar a natural construção de personagens que determinam nossa relação com o mundo e com o outro. Na presença das câmeras, as pessoas-personagens se apresentam da maneira que querem, transparecendo, de certa forma, os valores culturais e estéticos que acreditam serem bons. A compilação de tais imagens de férias gerou um enorme e heterogêneo material bruto, sobre o qual o diretor dedicou-se a montar e fazer significar. Em "Viajo porque preciso, volto porque te amo" (2009), da dupla Marcelo Gomes e Karin Aïnouz, nota-se um quebra cabeça de imagens poéticas, documentais em sua maioria, que tem como fio condutor a narração de um personagem, que não aparece em cena em nenhum momento, narrando suas impressões durante a viagem que faz pelo sertão. Trata-se de uma travessia, apresentada em exuberantes e delicadas imagens captadas pelos diretores, em diferentes suportes, no decorrer de dez anos. Essas imagens, feitas em diversos locais pelo sertão nordestino, foram montadas e remontadas, e durante seu processo de desenvolvimento, antes de virar um longa, se desdobrou em um curta, e em vídeo instalações. A partir da analise dos filmes "Pacific", e "Viajo porque preciso, volto porque te amo", busca-se observar algumas tendências da produção experimental atual. Entre elas, aponta-se a absorção de aspectos inerentes a outras formas de arte, notado tanto no filme em si, como na ênfase dada à fase processual do fazer fílmico. Outra tendência seria de se desvincular do espaço institucionalizado das salas de cinema, buscando nos espaços e conceitos da arte contemporânea, novas possibilidades estéticas. Assim, nota-se que a fruição desses filmes se diferencia, pois se trata não de uma fruição para mero entretenimento ou deleite do produto final, pois o foco não é necessariamente o filme finalizado, mas o potencial conceitual e filosófico que ele levanta. Essas obras experimentais contemporâneas levam ainda a notar o borramento cada vez mais intenso das fronteiras entre documentário e ficção no cinema contemporâneo, uma quebra consciente das tradicionais classificações de gênero cinematográfico. Esses filmes em questão são exemplos de experiências que se apropriam de métodos e formatos como o vídeo experimental, a video-instalação, a arte tecnológica, as artes plásticas como um todo, e propõem uma reflexão sobre a maneira segundo a qual formas poéticas de pensar o real são intercambiáveis com a abordagem documental. Realizadas inteira ou parcialmente em vídeo, essas imagens não são usadas como mero registro de situações pré-existentes, mas como processo que impulsiona e estimula diferentes formas de representação das imagens que compõem e dão sentido ao mundo, questionando a posição do diretor como produtor exclusivo de sentido. Dessa forma, nota-se que clássicas reflexões sobre o campo do documentário, no que diz respeito às noções de verdade e mentira, autenticidade e ficção, realidade e mise-en-scène, são avivadas e remodeladas, apontando para novas diretrizes do cinema atual, onde, mesclando-se com a arte e a tecnologia, leva o cinema a um novo direcionamento estético. |
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Bibliografia | BELLOUR, Raymond. Entre imagens. Campinas. São Paulo: Papirus. 1997.
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