ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | A “CINE-PRODUÇÕES FENELON” E O CINEMA INDEPENDENTE |
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Autor | Luís Alberto Rocha Melo |
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Resumo Expandido | Veterano técnico de som e fundador da Atlântida, Moacyr Fenelon (1903-1953) foi um dos primeiros cineastas a reivindicar para si a denominação de “produtor independente” e a revesti-la de um significado especial: “A Atlântida foi o início da concretização de um sonho que há muito vinha mexendo com os meus miolos. Ainda não era independente, mas já ganhara um pouco de liberdade. [...] o velho sonho continuava presente e fui obrigado a ceder aos seus impulsos; tornei-me produtor independente com a organização da ‘Cine-Produções Fenelon’.” (CARLOS, 1950).
A atividade de Moacyr Fenelon como realizador independente abrange os onze filmes que produziu e/ou dirigiu entre 1948 e 1952. Essa produção pode ser dividida em duas fases. A primeira delas (1948-1950) compreende os filmes produzidos pela Cine-Produções Fenelon em regime de associação com a Cinédia S/A, estúdio do veterano produtor e diretor Adhemar Gonzaga, fundado em 1930. A segunda fase (1950-52) tem início com a fundação da Flama Filmes pelos irmãos Carlos e Rubens Berardo e a posterior incorporação da Cine-Produções Fenelon por aquela empresa. O foco deste trabalho é a primeira fase, isto é, os filmes produzidos pela Cine-Produções Fenelon. Interessa-nos mapear as relações de produção entre a firma de Fenelon e os estúdios da Cinédia, o que incluía aluguel de estúdios, câmera, equipamento de som, eletricidade, laboratório, maquiagem, projeção, montagem e distribuição, incluindo os profissionais relativos a cada setor. Nesse regime, Fenelon e Gonzaga realizaram juntos seis filmes: "Obrigado, doutor!" (Moacyr Fenelon, 1948), "Poeira de estrelas" (Moacyr Fenelon, 1948), "Estou aí?" (Cajado Filho, 1949), "O homem que passa" (Moacyr Fenelon, 1949), "Todos por um" (Cajado Filho, 1950) e "A inconveniência de ser esposa" (Samuel Markezon, 1950), sendo que este último foi apenas parcialmente rodado nos estúdios da Cinédia. Máximo Barro informa que: “O plano elaborado pela Cine-Produções Fenelon previa uma associação com a Cinédia, em relação a estúdios e equipamentos, e o circuito concorrente de [Luiz] Severiano [Ribeiro Jr.], o Pathé, como exibidor.” (BARRO, 2001, p. 84). No entanto, o primeiro filme realizado por Fenelon e Gonzaga, "Obrigado, doutor!", foi distribuído pela União Cinematográfica Brasileira, distribuidora de Severiano. A partir de "Poeira de estrelas" a Cinédia passou a encarregar-se da distribuição, com exceção de "A inconveniência de ser esposa", distribuído pela Cooperativa Cinematográfica Brasileira, cujo presidente era Newton Paiva, arrendatário do estúdio da Primavera Filmes, onde Fenelon iniciou, em 1950, "O Dominó Negro", considerada a primeira produção da Flama Filmes − portanto, o filme inaugural da segunda fase de Fenelon como produtor independente. A associação de Moacyr Fenelon com Adhemar Gonzaga indica que sem a estrutura da Cinédia (e, mais tarde, da Flama), a atividade de Fenelon como produtor independente não teria sido possível ou teria se dado em condições bem menos favoráveis. A estrutura da Cinédia era o que garantia a Fenelon elaborar um programa de ação, planejando um total de seis filmes que deveriam ser realizados em sequência. Ressalte-se ainda que a associação Fenelon-Cinédia antecipa um mecanismo que viria a se tornar comum no final dos anos 1950, qual seja, a união de pequenos produtores independentes com os grandes estúdios. É significativa, portanto, a pouca atenção dada ao papel da Cinédia no capítulo concernente à produção independente no Brasil dos anos 1940-50. O que sugere que, entre nós, a expressão “cinema independente” não se refere às relações de produção tal como elas efetivamente se dão, mas a um discurso de legitimação de um determinado perfil de realizador cinematográfico; para que esse discurso tenha eficácia, é necessário deixar em segundo plano − ou às vezes até mesmo apagar − as relações de produção que o sustentam. |
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Bibliografia | BARRO, Máximo. Moacyr Fenelon e a criação da Atlântida. São Paulo: SESC, 2001.
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