ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Em jogo, as subjetividades: 33, Jogo de cena e Rua de mão dupla. |
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Autor | Pablo Gonçalo |
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Resumo Expandido | Primeiramente, a apresentação irá abordar as delimitações conceituais entre subjetividade e documentário. O conceito de subjetividade terá a obra Caosmose, de Felix Guatarri como principal referência. Nela, as subjetividades são engendradas por “máquinas de subjetividade” que produzem concepções múltiplas e heterogêneas de relações entre o indivíduo e o mundo. Esse conceito torna-se importante para contrapor uma compreensão do sujeito como uma essência última da individuação.
No âmbito circunscrito ao documentário enfatizaremos a concepção teórica que traça uma genealogia dos documentários subjetivos a qual, segundo, Michael Renov, teria a obra Lost lost lost de Jonas Mekas como principal marco. Pretende-se também recuperar os conceito de pacto com o leitor oriundo da obra de Phillipe Lejeune, segundo o qual, tanto na literatura quanto em outras mídias, as narrativas autobiográficas reivindicam um pacto entre o autor, o narrador e o leitor/espectador. O terceiro campo analítico fará uma inter-relação entre documentário e subjetividade por meio do conceito de jogo. Nessa seara, levantaremos as formulações sobre jogos de linguagem desenvolvidas por Ludwig Wittgenstein na sua sobra Investigações Filosóficas. Esse conceito tecerá a análise que faremos das obras selecionadas, pois compreende-se que tais filmes enunciam jogos de linguagem que desvelam novas facetas tanto sobre o documentário quanto sobre as subjetividades. 33, documentário autobiográfico de Kiko Goifman, é claramente marcado pelo aspecto do jogo. Não apenas pelo seu claro “dispositivo”, mas, principalmente, pela forma como entrelaça as regras que cria e a forma de abordagem frente aos entrevistados. Eis o mote do filme: filho adotado, Kiko Goifman resolve procurar a sua mãe natural. No entanto, ele se dá 33 dias para encontra-la. Não obstante tal regra, ele ainda elabora esteticamente seu documentário como se fosse um film noir, com voz over e áurea detetivesca. Nesse caso, seu “dispositivo” encadeia um jogo. Pouco a pouco, o próprio Kiko Goifman começa a jogar com as diversas mídias que vincula ao seu filme, como a Tv, a internet, por meio do seu blog, os anúncios no jornal e mesmo o documentário que tece junto ao espectador. Rua de mão dupla, de Cão Guimarães é uma vide-instalação e documentário que propõe uma interessante interação entre seis pessoas que moram em Belo Horizonte. Nessa obra, o artista mineiro convida seis pessoas anônimas para, em três duplas, trocarem de casas durante vinte e quatro horas. Elas compartilham tal experiência filmando as casas uma de outra e, posteriormente, num depoimento, traçam um retrato imaginário sobre quem morava naquela casa. De certa forma, Rua de mão dupla também delineia um dispositivo. A proposta do jogo está em colocar retratos que serão completados apenas pelo espectador de tal maneira que aqueles que filmaram um ao outro se conhecerão apenas virtualmente, como espectadores. A artimanha de Cao Guimarães está em permear uma relação entre anônimos que assim permanece em diversas camadas da sua projeção. A obra de Guimarães também desperta o jogo inerente ao fato do documentarista passar as câmeras `aquele que quer retratar. O aspecto lúdico encontra-se logo no titulo do penúltimo documentário de Eduardo Coutinho. Jogo de cena brinca com o espectador ao mesclar depoimentos de mulheres anônimas com interpretações realizadas por atrizes conhecidas. Cria-se um instigante universo ficcional que suscita questões e dúvidas ao espectador. Ao focar em atrizes – pois este filme não deixa de ser um documentário “sobre atrizes” – Coutinho também distancia-se de uma compreensão essencialista sobre a construção de subjetividades. Por fim, a apresentação também pretende discutir as formas de interatividade que cada uma dessas obras suscita. Ao focar na interatividade, e na relação ética que ela engendra, estaremos desdobrando mais um ator fundamental no jogo de subjetividades: o espectador. |
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Bibliografia | COMOLLI, Jean-Louis Ver e Poder. A inocência perdida: cinema, televisão, ficção, documentário. Editora UFMG, Belo Horizonte, 2008
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