ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Cineastas “instrumentos do povo”: o cinema durante a Unidade Popular |
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Autor | Carolina Amaral de Aguiar |
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Resumo Expandido | Durante a eleição de Salvador Allende, um grupo de cineastas chilenos se reuniu em torno da campanha presidencial da Unidade Popular. Em 1970, consolidada a vitória nas urnas, publicaram o Manifesto de los cineastas de La Unidad Popular com o objetivo de traçar um guia programático comum para os que pretendiam eternizar em suas câmeras esse momento único: o primeiro governo declaradamente marxista que chegava ao poder pela “via democrática”.
Apesar de não conter nenhuma proposta estética, ou mesmo uma unidade de conteúdo, o documento partia da premissa: “Que antes de cineastas, somos hombres comprometidos con el fenomeno político y social de nuestro pueblo y con su gran tarea: la construcción del socialismo”. Dessa maneira, os filmes realizados nos três anos que antecederam o golpe militar apresentam como similaridade a tentativa de se engajar no processo de implementarização do socialismo, meta traçada pelo governo e boicotada pelas reações da direita chilena. Apesar das divergências dos setores que compunham a Unidade Popular de como seria possível alcançar o socialismo, a ideia de que era necessário estabelecer um governo do povo e para o povo prevaleceu. O filme de Miguel Littin, Compañero presidente, produzido em 1973, externa já em seu título o esforço em transformar Allende em um representante legítimo das classes populares. Essa tentativa está presente ainda em outras produções do início dos anos 1970, como em La batalla de la producción, de Sebastián Domínguez, e Pintando con el Pueblo, de Leonardo Céspedes, que destacam o papel fundamental do povo para garantir a legitimidade governamental . Muitos filmes produzidos por defensores da UP optaram pela adoção de uma linguagem acessível e pedagógica, que incentivasse as organizações populares espontâneas e o empenho em produzir, já que agora não havia mais um “patrão” – ou presidente –, mas sim outro companheiro no poder. Nesse sentido, apesar de seu desfecho trágico, consequência em parte das inúmeras contradições e manobras contestáveis no interior da esquerda chilena, a Unidade Popular se consolidou como um dos momentos onde o clamor por um protagonismo histórico das classes populares for mais forte. De fato, isso ocorreu em muitos momentos, como nas ocupações de fábricas, de terras e de moradias urbanas. O cinema, como dizia ainda os cineastas que assinavam o manifesto, devia ser uma arma para fortalecer o “poder popular”: “Que entendemos por arte revolucionario aquel que nace de la realición conjunta del artista y del pueblo unidos por un objetivo común: la liberacición. Uno, el pueblo, como motivador de la acción y en definitiva el creador, y el otro, el cineasta, como su instrumento de comunicación.” Ao mesmo tempo em que ocorreu certa continuidade no documentário chileno dos anos 1970 na tentativa de trazer o povo e a participação política para o centro do debate cinematográfico (o que ocorreu também na ficção, como no caso de El chacal de Nahueltoro, realizado por Miguel Littin em 1969), os anos da Unidade Popular colocaram um novo desafio em cena: após a vitória nas urnas, como implementar de fato o socialismo no país? Tomando partido nessa luta, os cineastas chilenos iniciam seu manifesto reconhecendo esse grande desafio: “CINEASTAS CHILENOS: es el momento de emprender juntos com nuestro pueblo, la gran tarea de la libertación nacional y de la construcción del socialismo”. Nessa perspectiva, guiada pelo Manifesto de los cineastas de La Unidad Popular e tendo em vista uma tradição iniciada na década de 1960 de priorizar a esfera política, esta comunicação pretende traçar pontos e comum e divergências em filmes produzidos durante os três anos do governo de Salvador Allende. Produções como Venceremos, de Peter Chaskel; Crónica del Salitre, de Angelina Vásquez; El primer año e La respuesta de octubre; de Patrício Guzmán reproduziram nas telas alguns dos principais debates que envolveram e impossibilitaram a continuidade da Unidade Popular. |
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Bibliografia | AGGIO, Alberto. Democracia e socialismo no Chile: a experiência chilena. São Paulo: Annablume, 2002.
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