ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | O espaço dilatado e o aniquilamento: tensão e significação no cinema |
|
Autor | Odair José Moreira da Silva |
|
Resumo Expandido | O espaço representa uma instância fundamental quando o cinema opera com a ideia do tempo. Vistos separadamente, mas indissociáveis na representação fílmica, o tempo-espaço cinematográfico ora privilegia a duração, em relação a uma produção de efeitos de sentido em que a sensação do tempo se faz necessária na diegese, ora dá voz ao espaço como produtor de outros efeitos sensoriais. Vistos dessa forma, tempo e espaço se coadunam e, oriundo de uma vontade do enunciador em fazer com que seu enunciado seja absorvido como uma experiência viva pelo enunciatário – o espectador –, cada um pode ser caracterizado como elemento fundamental na elaboração e direção que determinado filme decide tomar. Podemos falar aqui ora em uma temporalização do espaço, ora em uma espacialização do tempo (Stephenson; Debrix). Uma temporalização do espaço, de um ponto de vista semiótico, pode implicar em uma dilatação espacial em que a amplitude topológica ganha estatuto temporal (em termos de duração). Tal dilatação pode acarretar em um aniquilamento dos corpos expostos nessa imensidão que, de certa forma, torna-se superior diante da pequenez humana. Em níveis tensivos, quanto mais o espaço adquire uma direção tonificada, mais se torna aberto, “escancarado”, revelando nessa exterioridade, uma posição superior ao sujeito nele exposto, ou seja, este se torna um ator em atonia e, longe de proporcionar um deslocamento para que o impulso o livre da imensidão espacial destruidora, entra em um modo totalmente fundamentado pelo repouso extensivo que o levará ao aniquilamento. O sujeito não estabelece um movimento ascendente, que proporcionará o deslocamento, mas, diante uma aspectualização que escancara o espaço em uma exacerbação, um dilatamento topológico, ele perde suas forças e, aspectualizado em um processo de minimização, adquire uma fixidez que extingue totalmente seus impulsos e o leva ao aniquilamento pelas forças oriundas desse espaço exacerbado que, em termos de duração, adquire um status de eterno. Diante do exposto, o que se pretende aqui é verificar como essa “temporalização do espaço” pode ser vista, em termos de intensidade e extensidade, como aspectualizações que tendem a privilegiar o espaço e, dessa forma, aniquilar os corpos nele expostos. Para isso, será utilizado o filme Mar Aberto (2004), de Chris Kentis. A análise terá como pressupostos teóricos os desenvolvimentos da semiótica greimasiana tensiva em que termos como “intensidade”, “extensidade”, “direção”, “posição”, “impulso (elã)” e “aspecto” procuram mostrar como os estados de alma (o sensível) regem os estados de coisas (o inteligível). Tais noções, oriundas da semiótica tensiva proposta por Jacques Fontanille e Claude Zilberberg, ajudam a corroborar a ideia de que o tempo e o espaço no cinema são indissociáveis, embora muitos teóricos apontem o discurso cinematográfico ora como a “arte do espaço” (Betton), ora como a “arte do tempo” (Martin). A dilatação do espaço presente no filme de Kentis conduz a uma interpretação em que se nota a instabilidade emocional dos sujeitos (os atores do filme) diante de um escancaramento, de uma abertura exacerbada da superfície marítima, incutindo em tais sujeitos um estado de fixidez que os leva ao completo apagamento, ao aniquilamento não só de suas forças, mas também de seus corpos, destruídos pelas forças provenientes do espaço estendido e avultado. Logo, essa avultação dá ao espaço uma orientação em que predomina, em todos os aspectos, a sensação de que o tempo parece não transcorrer nunca, pois este, assim como o espaço, também está dilatado. O enunciador do filme constrói um terreno baseado em níveis tensivos para que seu espectador possa também “sentir” o desespero que as personagens vivenciam até atingirem um clímax não catártico. Esse efeito de sentido proposto por esse enunciador, pelo viés da semiótica tensiva, poderá ser mais bem esmiuçado e, como consequência, corroborará a noção de que o cinema é uma arte do tempo-espaço. |
|
Bibliografia | AGEL, H. L'espace cinematographique. Paris: Jean-Pierre Delarge, 1978.
|