ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Paranóia: um delírio entre a poesia, a fotografia e o cinema |
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Autor | Susana Dobal |
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Resumo Expandido | Embora a relação entre o cinema e outras artes tenha sido tema recorrente desde o princípio da teoria do cinema, esse diálogo vem adquirindo ainda mais força na medida em que produções contemporâneas radicalizam a interralação entre diferentes linguagens artísticas. No caso específico da fotografia, ela foi considerada em diálogo com o cinema no que diz respeito principalmente à sua presença em filmes diversos, porém, menos se tem falado sobre a presença do cinema na fotografia. Ao investigar o livro de poemas Paranoia, do poeta Roberto Piva acompanhado com imagens do fotógrafo Wesley Duke Lee, publicado pela primeira vez em 1963 e republicado recentemente, verifica-se o uso de recursos diversos que aliam fotografia, poesia e indiretamente também o cinema.
A união de poesia e fotografia nesse livro está longe de ser apenas uma relação simples de ilustração pois, além de dar realismo aos poemas sobre o ambiente urbano de São Paulo, as fotografia são usadas também com fins metafóricos ou de sugestão menos explícita do que a mera presença de um referente, ou seja, mais próximas da metonímia do que do registro. De maneira geral, a poesia usa recursos próprios de corte com a quebra de versos e a ambiguidade de sentidos que isso pode proporcionar, ou também de equivalências com o jogo entre versos diferentes. A fotografia pouco conseguiria fazer com esses recursos não fosse pelo formato do livro que faz de cada página e do encadeamento entre elas uma experiência visual próxima do cinema. A ênfase presente em um plano, por exemplo, é dada, assim, com enquadramentos diferentes que, se não dispõem da temporalidade para adquirir peso, têm na presença espacial na página um recurso de linguagem que ajuda a fotografia a significar em diálogo com outras fotos e com o texto. É, no entanto, na sequência muitas vezes inusitada de uma página para outra que o cinema mais se faz presente. A montagem cinematográfica é que melhor informa sobre o encadeamento de imagens e texto proporcionado por esse livro, pois a mudança de página trabalha com recursos como criar espectativas, romper com elas, fazer oposições, justaposições e com tudo isso recriar sentidos para a imagem estática. A fotografia é vista, assim, não como unidade independente que copia a realidade, mas como imagem em movimento, em diálogo com outros elementos ao seu redor que alteram o seu sentido, assim como diria Eisenstein em respeito ao plano, ou ainda, a fotografia é vista, nesse caso, como imagem em relação ao mesmo tempo sintagmática e paradigmática com as outras imagens, assim como pensava Christian Metz ao buscar as unidades mínimas de sentido da linguagem cinematográfica. O livro Paranoia tem em comum com o cinema, portanto, não apenas a tematização da cidade vista em fragmentos, tema caro ao cinema clássico, ao cinema experimental e também à poesia modernista. A maneira de mostrar esse tema constitui um instigante convite a se pensar a poesia e a fotografia com os olhos do cinema. Não se trata, aqui, apenas de unir poesia e cinema sob o ponto de vista do último, como fizeram cineastas como Pasolini, Buñuel e Tarkovsky, mas um convite a se pensar cinematograficamente a fotografia aliada à poesia. A linguagem delirante dos poemas do livro Paranoia viabilizou a liberdade de associações não apenas dentro dos próprios poemas, mas também na maneira de constituir uma linguagem poética-fotográfica-cinematográfica. |
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Bibliografia | CAMPANY, David. Photography and Cinema. London, Reaktion Books, 2008.
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