ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | A ORIGEM DOS FILMES AMERICANOS DE GÂNGSTER |
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Autor | André Campos Silva |
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Resumo Expandido | Ao longo dos anos a figura do gângster sofreu vários deslocamentos em sua caracterização, fenômeno muito comum e natural quando se observa qualquer gênero cinematográfico, conforme ensina Altman (apud NOWELL-SMITH, 1997.) Porém, em decorrência do grande apelo popular em que essa figura se ancora e do alto valor de significados conflituosos que sua fonte real tem determinado na sociedade, acabou sendo, o personagem, quando transposta para o cinema, um território para grandes disputas, adaptações e re-leituras. Os deslocamentos a que nos referimos e seu contexto constituem o assunto deste artigo.
De acordo com Colin McArthur (apud SILVER; URSINI, 1997), a iconografia visual se estabelece na relação dinâmica entre um objeto e uma figura. Revela a capacidade que o público tem de reconhecer padrões visuais estabelecidos por décadas de repetições em determinados gêneros. Os personagens e tipos característicos na iconografia visual se estabelecem a princípio pela mediação que o ator faz do personagem. Ao longo do tempo alguns atores se tornam referência em determinados gêneros e cada vez que eles aparecem em um novo filme acabam reforçando certos traços estilísticos do tipo do personagem do gênero que interpretam. Esses atores não mais interpretam o personagem, eles se tornam a representação do personagem. Suas fisionomias, tiques e trejeitos compõem um novo elemento, promovendo uma assimilação de corpo e alma a essa coletiva entidade de filmes. Dessa maneira é possível realizar uma leitura genérica e histórica pelas formas de representação dos gêneros.Os filmes gângster seguiram determinados elementos estilísticos ao longo dos anos.Esse trabalho busca sintetizar e demonstrar essas representações. Os primeiros filmes da década de 20 estão muito ligados a atividades criminosas, mas não refletem sobre a pressão econômica ou abandono social, presentes nos filmes dos anos 30. Além disso, esta nova década traz filmes cada vez mais perturbadores para as estruturas conservadoras.As histórias começam a ter uma forte temática sexual, e na maioria das vezes enfatizam os motivos do consumo de álcool e da violência. A exploração desses temas desencadeia uma série de movimentos conservadores que tentam “moralizar” tanto os assuntos como os personagens que desempenham suas ações; desse modo, a sociedade não só é afetada pela atuação dos gângsteres, mas participa ativamente das relações pessoais e comerciais deles. Os filmes do gênero que merecem menção ao fim década de 20 são Underworld – Paixão e Sangue (1927) e Lights of New York (1928).Esse filme foi o primeiro a dar voz às cidades e ao gângster.Suas atitudes urbanas foram obrigatoriamente contextualizadas dentro de um segmento particular da população, com forte sotaque urbano e estrangeiro. Os anos 30 são, portanto, um momento chave para o gênero, coincidentemente é o momento em que os Estados Unidos consolidam a indústria cinematográfica por meio do Star System, produzindo, distribuindo, exibindo e, inclusive, exportando muitos filmes. Entre os anos 40 e 50 o gângster se torna um sujeito deslocado, cínico e pessimista, em contexto distante do contrabando de álcool, mas extremamente próximo aos conflitos na Europa. A ignorância e a ingenuidade das pessoas constituem uma perfeita brecha para os conflitos com a lei. O período compreendido pelo final década de 50 e inicio dos anos 70 terá a corrupção policial e política como mecanismo de um submundo do crime, capaz de ameaçar o país. Sendo assim, pode-se afirmar, que o gênero não só acompanha mas ilustra as vicissitudes de mudanças da mentalidade do homem norte-americano no decorrer do século XX. |
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Bibliografia | DE STEFANO, George.An Offer We Can´t Refuse – The Mafia in the Mind of America.New York: Faber and Faber, 2006.
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