ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Mídias digitais e a democratização do audiovisual |
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Autor | Daniela Pfeiffer |
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Resumo Expandido | A produção audiovisual no Brasil concentra-se no eixo Rio – São Paulo, considerando principalmente a sua estreita ligação com a lógica dominante do mercado e da economia. Por se tratar de uma indústria, onde bens culturais são produzidos e comercializados, seu desenvolvimento acaba condicionado à existência de uma economia que a sustente, o que acaba restringindo os locais onde esse desenvolvimento acontece. Tal concentração, por sua vez, acarreta em sérios prejuízos culturais, se considerarmos que também o discurso veiculado provém majoritariamente desses dois estados.
Do ponto de vista da distribuição, os mercados de salas de cinema e da televisão configuram-se como extremamente competitivos e restritos à circulação da produção independente como um todo. Esse segmento também reflete a concentração regional observada na produção, ao favorecer a circulação e o acesso a obras originadas no eixo, que reproduzam o discurso hegemônico existente. O fenômeno das mídias digitais pode ser considerado, neste sentido, como uma alternativa viável e mais democrática tanto para a produção quanto para o consumo. As mídias digitais colocam à disposição dos produtores e do público um espaço independente de intermediários, e ofertam uma extensa quantidade de conteúdos audiovisuais, inclusive gratuitamente. Para De Luca (2009, p. 299), a tecnologia digital colocou em risco os axiomas tradicionais da indústria audiovisual, principalmente por simplificar o acesso ao conteúdo e possibilitar que o espectador veja os filmes “sem as restrições de meios e veículos impostas”. Ao facilitar a veiculação e o consumo de audiovisual, as mídias digitais uniram a gratuidade da televisão aberta à possibilidade de escolha do conteúdo oferecida pelo home vídeo, apresentando-se assim como uma importante ferramenta de democratização. Esse meio pode, assim, atuar em favor da perspectiva da desconcentração e da diversidade cultural, ao permitir a circulação de conteúdos de diferentes estados, e oferecer ao espectador a possibilidade de buscar aquilo que ele próprio determina, segundo seus critérios. Existem, no entanto, alguns impasses nesse modelo. Uma importante questão a ser abordada diz respeito à programação, uma vez que a oferta de uma infinidade de conteúdos e portais acaba dificultando que o público encontre aquilo que ele realmente procura. No caso da televisão, por exemplo, o espectador já sabe exatamente o que irá encontrar no horário nobre em determinado canal. Na Internet, por sua vez, cabe a ele procurar pelo conteúdo e montar a sua própria programação. Outro grande impasse na questão das mídias digitais, é que ainda não existe um modelo de negócios definido que as torne uma alternativa sustentável do ponto de vista econômico, remunerando a cadeia produtiva e movimentando por fim a indústria audiovisual. Alguns portais de vídeo cobram pelo download ou o streaming de conteúdo, gerando dessa forma uma receita para o produtor ou o detentor dos direitos do filme. Outros modelos de remuneração permitem o acesso gratuito ao conteúdo, e nesse caso o modelo é estabelecido caso a caso, sendo a publicidade o mais comum. Uma vez que a caracterização desse novo formato enquanto atividade industrial inserida no todo complexo da cadeia do audiovisual exige também a remuneração pelo produto comercializado, somos levados a refletir sobre as possibilidades de sustentação desse modelo, bem como sobre a sua opção enquanto caminho rumo à desconcentração. |
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Bibliografia | CANCLINI, N. G. Diferentes, desiguais e desconectados: mapas da interculturalidade. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2007.
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