ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Luz e sombra e produção de sentido no expressionismo alemão |
|
Autor | Bertrand de Souza Lira |
|
Resumo Expandido | O cinema encontrou terreno fértil nos anos 10 e 20, décadas de convulsão social e política (I Guerra Mundial, Revolução Russa) e de grande efervescência cultural com a emersão das vanguardas artísticas rompendo padrões vigentes e propondo alternativas no fazer artístico. Essas propostas vão repercutir no fazer cinematográfico, com a transposição de idéias homólogas e o surgimento, no próprio cinema, de vanguardas congêneres. O expressionismo alemão foi um delas. Nosso interesse neste movimento para a presente abordagem diz respeito ao emprego expressivo da luz e da sombra nas imagens cinematográficas produzidas nos filmes do período compreendido entre 1919 e 1925-7, conforme ressalta Lotte Eisner (1985). A leitura empreendida aqui adota uma metodologia que contextualiza a obra na época de sua produção, priorizando uma análise do estilo e técnica vigentes no período e dos anseios expressivos dos seus autores, sem perder de vista o conteúdo e a época retratados na narrativa fílmica e, principalmente, a arquitetura de luz e sombra engendrando significados outros além daqueles imediatamente visíveis. Dois filmes do expressionismo alemão - Nosferatu (1922) e Fausto (1926), de Murnau, serão analisados tendo como leitmotiv a luz e a sombra e suas significações imaginárias baseadas nas teorias antropológicas do imaginário postuladas por Gilbert Durand (1988, 1995, 2001, 2002), Mircea Eliade (1991, 1998) e Gaston Bachelard (1990, 1993, 2003). Para uma leitura crítica dos filmes, aproximamo-nos de pesquisadores do cinema alemão da primeira metade do século, cujas obras são referências obrigatórias para quem envereda no tema. Além de Eisner (1985) e Sigfried Kracaeur (1988), na Alemanha, Luiz Nazário (1983, 1999), no Brasil, traz contribuições imprescindíveis para refletir a importância estética dessas obras. A sofisticação desses filmes, no trato com a luz e na composição de uma atmosfera visual com forte carga simbólica. As imagens “iluminadas” do cinema foram beber no rico passado pictural no processo de elaboração de suas imagens em movimento. “Iluminadas”, porque o cinema tem a luz como condição primeira para sua produção bem como para a sua posterior visualização - são imagens visíveis graças à luz que emana do projetor materializando-as na tela gigante; o segundo sentido diz respeito à inspiração do realizador na elaboração plástica dessas imagens. São aquelas imagens produzidas por uma iluminação expressiva, ela mesma portadora de sentidos, contribuindo para a narrativa de uma obra, com significações outras além daquelas visíveis ou literais.
No que tange à leitura dos filmes, tendo como foco de análise seus signos icônicos (os demais signos serão invocados sempre que se fizer necessário para corroborar a compreensão da mensagem visual), ancoramos nossa análise na concepção de interpretação de uma obra proposta por Eco (2001) que considera fundamental a participação do fruidor na construção do sentido. Nesta perspectiva, a relação interpretativa pressupõe um grau de autonomia concedida ao intérprete, colocado como “centro ativo de uma rede de relações inesgotáveis”, e um grau de consciência por parte do autor da abertura existente em toda obra artística que a constrói sem perder de vista essa peculiaridade. A partir dessas valorosas contribuições metodológicas, empreendemos nossa apreciação das obras selecionadas para esta investigação, na esperança de jogar um pequeno facho de luz sobre o assunto.Que significações imaginárias encerram a arquitetura imagética da sombra e da luz? O que nos revelam os instigantes jogos de luz e sombras nessas imagens? São questões a serem trabalhadas na nossa abordagem com embasamento nas teorias antropológicas do imaginário, sem esquecer, no entanto, que a leitura das obras em questão encerra uma visada pessoal do pesquisador movida por afetos, paixões, interesses, sentimentos que, no final das contas, são ao ao mesmo tempo fruto e alimento do seu próprio imaginário. |
|
Bibliografia | AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas, SP: Papirus, 1993.
|