ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Christian Boltanski e Chris Marker: imagem e memória |
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Autor | Juliana Martins Evaristo da Silva |
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Resumo Expandido | “A experiência histórica faz-se pela imagem, e as imagens estão elas próprias carregadas de histórias”
A proposta do presente texto consiste em promover uma análise comparativa entre Christian Boltanski e Chris Marker, tendo como horizonte da reflexão o instrumental teórico de Walter Benjamin e de seus interlocutores Georges Didi-Huberman e Giorgio Agamben, acerca da imagem, enquanto uma potência, um lugar convergente das forças do passado e do futuro. O que vemos de comum entre o artista plástico e o cineasta é a aposta de que a memória possa se encontrar viva nas imagens a partir de uma operação que, a luz da teoria benjaminiana, chamaríamos de dialética, enquanto contração temporal. No entanto, a vida da memória nas imagens se encontra na forma como os arquivos que as acolhem produzem também silêncios, na forma como suas lacunas são exaltadas como potências significativas. É na incompletude que podemos forjar uma memória, ainda que precária. Christian Boltanski foi um pioneiro num tipo de obra que tem por intuito a desconstrução do grande inventário construído pela fotografia documental do século XX. É uma constante em sua obra a reutilização metafórica de objetos com caráter indiciário. Seu grande tema é a memória do horror. Boltanski estabelece uma relação ambígua com as fotografias e outros restos do passado que foram apropriados pelo seu gesto artístico. Sua presença se coloca para exacerbar sua ausência, como fragmentos da perda. Nos filmes de Marker encontramos imagens de diversas procedências, imagens de arquivo, imagens documentais e encenadas, imagens apropriadas e produzidas por ele, as quais articula com textos escritos e orais, sem, no entanto, apaziguar a relação entre imagem e texto. Quase quarenta anos decorridos de “La Jetée”, em 2001 Marker se volta novamente para a montagem com fotografias no filme “Lembranças de um porvir”. Nele encontramos um procedimento benjaminiano de perscrutar nas fotografias de Denise Bellon, produzidas no entre guerras, os sinais de futuro que se inscreveram nas imagens. Assim, acreditando que ambos possuem um gesto característico do que seria o contemporâneo para Agamben - aquele que não toma o presente como dado, mesmo com a atualidade se mostrando como luz, o contemporâneo deve buscar o obscuro de seu tempo, como algo que lhe diz respeito - procuramos responder as perguntas: O que quer Christian Boltanski com a coleta de fotografias do século XX de diversas fontes, em especial com a recuperação de imagens descartadas? Que gesto permeia esta prática? E o que quer Chris Marker com seus filmes ensaios em que a memória aparece com um caráter fluido, entre o esquecido e o lembrado? Tendo como uma possível leitura para as práticas de Christian Boltanski e Chris Marker, respectivamente, de um lado um gesto de desconstrução e não nomeação, em que há a suspensão da redenção, e do outro um gesto de montagem, de novas associações para a produção de uma memória também tecida pelo esquecimento, a indicação de que o trabalho de ambos pode ser associado à leitura de Didi-Huberman da imagem como resto, em que: “Alguma coisa permanece que não é a coisa, mas um farrapo da sua semelhança. Alguma coisa – bem pouco, uma película – resta de um processo de destruição: essa alguma coisa, ao mesmo tempo em que testemunha uma desaparição, luta contra ela, pois se torna a ocasião da sua possível memória. Essa coisa não é nem a presença plena nem a ausência absoluta. Não é a ressurreição nem a morte sem resto. É a morte enquanto produtora de restos” A questão que fica é o que querem de nós as imagens? Uma resposta possível é que elas querem que não as esqueçamos, no entanto, algo se perde entre a imagem da memória e a memória da imagem, algo que nossos autores parecem perceber, pois o que fica é somente este farrapo de semelhança. |
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Bibliografia | Agamben, Giorgio. “Le visage”. In: Moyens sans fins – Notes sur La politique. Paris : Éditions Payart e Rivages, 2002.
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