ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Estudo sobre Decamerão: a comédia do sexo, de Jorge Furtado |
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Autor | Vanessa Fernandes Queiroga Pita |
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Resumo Expandido | Este trabalho abrange as áreas de Ficção televisiva, Literatura e Produção de sentido, e se trata do desenvolvimento de alguns pontos do nosso projeto de mestrado em andamento. Pretendemos realizar um processo de análise e interpretação discursiva da adaptação de Decamerão, de Giovanni Boccaccio(1970), veiculada em 2009 pela Rede Globo. A microssérie Decamerão: a comédia do sexo é um projeto do diretor Jorge Furtado e foi inspirada em algumas das cem novelas presentes no livro do autor italiano. A nossa proposta consiste em identificar como as duas obras dialogam nessa adaptação, ou re-interpretação (AZERÊDO, 2003), e também em observar a presença do elemento cômico (BERGSON, 1980; SARAIVA, CANNITO, 2004), tendo em mente a construção de um discurso ficcional televisivo e a sua conseqüente produção de sentido.
O livro é uma coleção de cem contos, narrados em dez jornadas, escritos entre 1348 e 1353, com histórias que retratam os amores mundanos, a prática licenciosa de religiosos, a vida cortês dos nobres e a dos mercadores. A obra é um marco literário do período de transição vivido pela Europa com o fim da Idade Média, que valorizava o amor espiritual, e o início do Realismo, onde prevaleceram os valores terrenos. Jorge Furtado juntamente com outros roteiristas, inspirados nas novelas de Boccaccio, criaram a trama Decamerão: a comédia do sexo, misturando comédia, romance e pitadas de erotismo. Diferente do livro onde dez jovens, sete mulheres e três homens, se reúnem em uma casa de campo em Florença, fugindo da Peste Negra da cidade e, entre banquetes e festas, contam histórias para se entreter, a microssérie cria uma realidade própria cheia de referências à cultura popular brasileira onde as personagens vivem algumas situações inspiradas na obra original. Considerando toda adaptação como apropriação de significado de um texto anterior e adotando um posicionamento alternativo ao discurso de fidelidade (GUIMARÃES, 2003), nos é permitido estudar o texto audiovisual da microssérie ressaltando os pontos em comum com a obra original, mas também observando outros pontos sugeridos por Jorge Furtado ao reinterpretar Decamerão. Assim, seguindo o pensamento de Anelise Corseuil (2003), propomos uma reflexão crítica sobre os efeitos que a adaptação conseguiu ou não criar, contribuindo para a discussão do diálogo entre essas duas linguagens (literatura e teleficção) e almejando assim atingir outros níveis de reinterpretação de acordo com as especificidades próprias da linguagem televisiva (PALLOTTINI, 1998). O aprofundamento do estudo da comédia proporcionará uma investigação das situações narrativas expostas nos enredos e a identificação dos tipos de comicidade presentes, de acordo com a classificação de Henri Bergson (1980). O episódio piloto intitulado Comer, Amar e Morrer, produzido pela Casa de Cinema de Porto Alegre, foi a primeira adaptação exibida da microssérie, no início de 2009. Esse piloto, inspirado na nona novela da terceira jornada do livro, se constitui como o corpus do nosso trabalho. Entre julho e agosto do ano passado, foram exibidos os outros episódios (O espelho; O vestido; O abade; O ciúme), todos inspirados em situações presentes nas novelas do livro, mantendo as mesmas personagens, o mesmo espaço em que as histórias se desenrolam e a predominância da temática dos valores do corpo e da vitalidade sexual. Esses pontos se constituem como elementos recorrentes, são chamados por Carlos Reis e Ana Lopes (1988) de fatores de redundância da narrativa, que permitem estudarmos o nosso corpus em correlação com aspectos encontrados nos outros quatro episódios da microssérie. Portanto, produziremos o nosso trabalho através da análise do discurso ficcional, tendo como objeto a adaptação da obra de Boccaccio pela microssérie Decamerão: a comédia do sexo, observando à correlação de ambas as obras e as suas relações com o contexto social (CANDIDO, 2000), bem como o meio de produção, circulação e consumo, no caso do audiovisual. |
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Bibliografia | AZERÊDO, G. Jane Austen, adaptação e ironia: Uma introdução. João Pessoa: Ed. Manufatura, 2003.
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