ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | A teatralidade cinematográfica e o uso de novos dispositivos na produção de imagens |
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Autor | Gabriela Lirio Gurgel Monteiro |
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Resumo Expandido | Pretende-se investigar as relações entre teatro e cinema, buscando interfaces entre as duas artes, em um momento de convergência e multiplicação de novas tecnologias. Antes, os espaços ocupados pelo cinema, pintura, literatura, fotografia e teatro guardavam, com certa nitidez, as especificidades de cada arte ou pelo menos este era o intento de quem se dedicava a defender a origem e as diferenças constituintes de um domínio artístico. Hoje, através da crescente reprodução e difusão de imagens que falam por si mesmas e têm, em muitos casos, destinos incontroláveis, as artes, de modo geral, em especial o cinema e o teatro, focos desta investigação, se caracterizam por delinear vias de escape, compondo lugares de passagem, híbridos, flutuantes.
Há de se pensar o destino das nouvelles images, a que se propõe Raymond Bellour. Imagens que aparecem e desaparecem, sem deixar vestígios, sem inscreverem, na superfície da tela, do palco ou de qualquer outra espécie de suporte, uma materialização, uma permanência, um registro. Imagens que existem somente na articulação/conexão com outras tantas e que, juntas, compõem espaços estratégicos, porosos e, de certo modo, independentes daquilo que inicialmente foi pensado como destino possível para elas. Imagens imprevisíveis porque, em sua mobilidade, na composição com outras, em redes, avançam indefinidamente. A digitalização de imagens, os avanços tecnológicos na criação de novos suportes, o barateamento de equipamentos, a ideia de uma sociedade anarquicamente globalizada impõem uma nova forma de pensamento sobre as artes. A interatividade entre a obra e o espectador é uma exigência deste tempo de agoridades – tempo real – em que touch screens, celulares com câmeras de alta resolução, leds ultra-finos, dobráveis, televisores que projetam em 3D aumentam as possibilidades de criação e recepção de imagens. Na emergência da manipulação de novas tecnologias, as novas imagens clamam o espectador a participar de forma interativa, em um jogo hipertextual que modifica a percepção espaço-temporal, o sentido de pertencimento a um local fixo de representação, a ruptura definitiva da lógica de um sujeito que busca se alicerçar em começo, meio e fim. O espectador, mais autor do que receptor da obra, se enxerga multiplicado nas imagens que absorve; ele é parte do que vê, se reconhece e perde, no contínuo deslocamento/descolamento, os limites do que antes era previsto pelas dimensões da tela de um cinema clássico-narrativo ou pela quarta-parede de um teatro de pretensões clássicas. Teatro e cinema vêm sendo, com o passar do tempo, objetos de investigação de cineastas e diretores de teatro curiosos em explorar as diferenças e similitudes em ambas as artes. Griffith, Bergman, Angelopoulos, Malle, Rohmer, Oliveira, Greenaway, Ozu, Peter Brook, Bob Wilson, são alguns nomes de pesquisadores que investigam o conceito de “teatralidade cinematográfica”. Diante da emergência das novas tecnologias da imagem, o teatro não deve permanecer de fora desta discussão, sendo uma força-motriz pela dialética que engendra na contemporaneidade: a de articulador da presença de uma tradição latente na corporeidade do ator – e a necessidade da sua presença física – e do uso cada vez mais crescente de investigações no campo audiovisual ligadas às novas tecnologias e seus múltiplos usos. Torna-se relevante o estudo da aplicabilidade destes dispositivos na cena teatral e, às avessas, a relevância da teatralidade como ferramenta constituinte de produções audiovisuais. |
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Bibliografia | BARTHES, Roland. Le théâtre de Baudelaire. In: Essais Critiques. Paris:Seuil, 1964.
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