ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Prenúncios da diversidade no filme Esses Moços Pobres Moços |
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Autor | Alexandre Figueirôa Ferreira |
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Resumo Expandido | O pernambucano Jomard Muniz de Britto foi um dos mais atuantes realizadores em super 8 no Recife entre os anos de 1973 e 1983 com filmes de destaque como O Palhaço Degolado, Inventário de um Feudalismo Cultural e Jogos Frutais Frugais. O cineasta reconhecia as limitações técnicas da bitola, mas encarava a realização de filmes amadores em super 8 como um instrumento cultural aberto à experimentação. Sua produção se caracterizou por um diálogo constante com as artes plásticas, o teatro e o próprio cinema e os filmes por ele realizados buscavam escapar das regras e estilos impostos pela cultura oficial. Além de questionar a realidade sócio-cultural do período, Jomard Muniz de Britto tratou de forma inovadora temas considerados à margem pelos círculos bem pensantes. Entre estes trabalhos estão Noturno em Ré (cife) Maior, sobre as aventuras de um vampiro bissexual na noite do Recife e Olinda e Esses Moços Pobres Moços, pequeno filme rodado em 1975 a partir da canção homônima de Lupicínio Rodrigues, cantada por Gilberto Gil, cujas imagens evocam o relacionamento amoroso entre dois rapazes.
Interessado em pesquisar novas linguagens e revelar por meio da imagem as contradições da cultura tradicional, ele sempre buscou fazer um cinema performático em que a linguagem corporal ganhava destaque e mostrava sua obra como uma extensão vivencial do próprio autor. O homoerotismo está presente no cinema de Jomard, portanto, não apenas como um tema, mas uma tomada de posição pessoal de modo a dar visibilidade a uma possibilidade afetiva que, a despeito das condições de produção destes filmes, pudesse ampliar de alguma forma a circulação de idéias. Esses Moços Pobres Moços, por trás de sua ingenuidade e simplicidade estética, evidencia um discurso que abria outra frente de ruptura temática, ocupando um espaço expressivo onde a censura e o patrulhamento ideológico era menos rigoroso e que permitiu ao próprio artista explorar em produções posteriores o tema da homossexualidade de forma mais aberta como nos filmes realizados em parceria criativa com o Vivencial, grupo teatral do Recife e de grande sucesso na cena teatral pernambucana, cuja transgressão se tornou notória ao discutir em seus espetáculos tanto a situação política do país quanto a liberdade sexual, abrigando em seu seio artistas, intelectuais e travestis. Este trabalho pretende assim analisar a contribuição de um filme aparentemente “inocente” na abertura de um campo mais flutuante das relações afetivas, e como suas imagens anunciam mais uma porta para que outros espaços expressivos da cultura brasileira e do cinema brasileiro abordassem a questão da homossexualidade fora dos estereótipos e caricaturas em geral predominantes na cinematografia do período. |
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Bibliografia | FIGUEIRÔA, Alexandre. O Cinema Super 8 em Pernambuco. Recife: Fundarpe, 1994.
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