ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Um cinema singular? O novo cinema português e os novos cinemas |
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Autor | Paulo Cunha |
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Resumo Expandido | Desde 1949, ano do afastamento de António Ferro da política cultural e cinematográfica da ditadura do Estado Novo e consequente abandono do seu projecto cultural denominado por Política do Espírito, várias figuras marginalizadas no cinema português de então procuraram diversas formas de romper com a produção cinematográfica dominante e promover a renovação do cinema português. Apesar de diversas tentativas nos anos 50 – concretamente os casos de Manuel Guimarães, Manoel de Oliveira e do amador António Campos, só na década seguinte é que se iriam materializar alguns filmes
São reconhecidas pelos próprios jovens promotores da geração de 1960 diversas afiliações e influências estéticas e éticas estrangeiras que contribuíram para o esforço de renovação no cinema português de então. A frequência de cursos de formação ou estágio profissional em instituições de ensino estrangeiras, a leitura de literatura cinéfila e cinematográfica estrangeira de referência, a prática do designado “turismo cinéfilo” e a frequência de diversos festivais de cinema internacionais são as principais razões geralmente apontadas para as influências sobre os realizadores e as suas obras deste período. Em 1964, o sociólogo português Adérito Sedas Nunes não tinha dúvidas em concluir que a “modernização” cultural e sociológica que a sociedade portuguesa então vivia se devia em grande medida à crescente abertura às influências exteriores, sobretudo europeia: “acesso à visão, e mesmo à vivência imaginária, de outras sociedades, outras condições de vida, outras formas de pensar e agir”. A passagem de vários indivíduos por sociedades europeias permitiu que os “horizontes mentais” e o “campo social de referência dos seus comportamentos, ideias, aspirações e decisões” se abrissem a “uma nova dimensão” e assumissem “novos elementos e perspectivas”. No caso particular dos jovens cinéfilos, a importação de “estímulos, imagens, oportunidades, solicitações e concepções” foi fundamental na materialização de uma oposição fílmica que, em termos escritos, vinha já sendo divulgada desde a década de 1950. O contacto com cinematografias estrangeiras, desde as obras clássicas aos movimentos de ruptura, forneceu aos cinéfilos mais inconformados com o cinema português uma base de comparação onde estes reviam as suas objecções culturais e estéticas. Num inquérito promovido pela Cinemateca Portuguesa em 1985, a propósito da primeira retrospectiva do novo cinema português, uma das principais questões dizia respeito às influências de cinematografias estrangeiras: Considera que os seus filmes (tanto ao nível da produção, como ao nível estético) se filiam, ou foram influenciados, em movimentos internacionais? Em dez inquiridos, a resposta foi unânime: todos sentem que a sua produção cinematográfica da época sofreu influências do que lerem ou viram. De todos as respostas, a de Alberto Seixas Santos é a mais clara: “Todos os filmes portugueses do período mantém, de forma indirecta ou explícita, relações com métodos de produção ou opções estéticas que se iam afirmando com a obra de alguns cineastas estrangeiros.” O objectivo desta comunicação será tentar apurar se o projecto inicial dos jovens realizadores que se estrearam durante os anos 60-70 e que reivindicavam a renovação do cinema português seria simplesmente reproduzir em Portugal as fórmulas e métodos de sucesso de outros cinemas nacionais que entretanto se renovavam em alguns países europeus ou se, pelo contrário, pretendiam promover uma forma original e singular de renovar a cinematografia portuguesa de então. Proponho, através de uma análise dos argumentos e das temáticas dos filmes desses jovens cineastas, tentar apurar quais as características originais ou singulares do novo cinema português perante outras obras produzidas no contexto das várias novas vagas suas contemporâneas. |
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Bibliografia | AA. VV. – Cinema Novo Português 1962-74. Lisboa: Cinemateca
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