ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | SE PODES OUVIR, ESCUTA: a gênese do Som-imagem no Ensaio Sobre a Cegueira |
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Autor | Kira Santos Pereira |
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Resumo Expandido | Na presente data da inscrição, a pesquisa ainda se encontra em fase de finalização, mas estará concluída antes da data do congresso.
Procurando compreender o processo de criação do som no cinema, e especificamente no cinema brasileiro contemporâneo, tomou-se como objeto de estudo o filme Ensaio Sobre a Cegueira. Diversos teóricos de cinema, como Eisenstein e Bresson, versaram sobre as vantagens da não-coincidência, ou não-redundância entre sons e imagens numa obra cinematográfica. Seguindo esta lógica, é comum em produtos audiovisuais quando se deseja “fazer o público escutar”, privá-lo da imagem. Assim, já no tema da cegueira, há a potencialidade de uma utilização ativa do som na construção da narrativa. Ao longo do processo de criação do filme estudado esta utilização ativa do som foi um tema bastante discutido; compreenderemos então como se deu esta criação e analisaremos o resultado final em vista das múltiplas possibilidades de obra anunciadas a longo do processo. O processo de criação será estudado utilizando a metodologia da Crítica de Processos, que propõe o estudo da a gênese de obras de arte a partir de registros materiais da criação. Para o presente estudo, partiu-se do romance no qual o fime se baseia, considerado ponto zero da criação, e foram pesquisados diversos outros registros, que dão conta das diversas etapas e profissionais envolvidos na criação: o blog Diário de Blindness, postado pelo diretor Fernando Meirelles ao longo do processo de construção do filme; o roteiro de filmagem; os cortes 1 e 7 da montagem; a sessão de pré-mixagem do filme em Protools; os making offs lançados no DVD; além, é claro, da versão final do filme apresentada comercialmente nos cinemas. Recorreu-se também a reflexões posteriores dos profissionais: uma palestra proferida por Meirelles, na ECA-USP, em outubro de 2008; a entrevista concedida por ele ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em setembro do mesmo ano; e entrevistas concedidas à pesquisadora pelo técnico de som, o editor de som, o músico e o mixador. Estão sendo feitas tentativas de se entrevistar também o montador e o diretor do filme. O livro a partir do qual o filme foi adaptado, devido à própria situação que aborda - uma epidemia de cegueira - utiliza a descrição de estímulos sonoros como importante ferramenta narrativa. É bastante freqüente no romance que fatos sejam narrados sob o “ponto de escuta” dos personagens cegos. Em palestra ministrada na Escola de Comunicações e Artes da USP em outubro de 2008, Meirelles afirmou que nas primeiras reuniões de criação do filme, a idéia era fazer “quase um programa de rádio”, ou seja, criar diversos momentos onde o público fosse privado da informação imagética, recebendo apenas estímulos sonoros. No produto final apresentado ao público, há algumas inserções curtas da tela branca, como no encontro entre o primeiro homem cego e sua mulher; ou tela negra, como na cena do porão do supermercado – ambas , a serem analisadas em detalhe. Nestes dois trechos a condução da narrativa é deixada a cargo do som, se aproximando da percepção das personagens na situação mostrada. Nos primeiros cortes a privação de imagem se fazia bem mais presente, e de maneira diferenciada. O desenvolvimento deste uso até o corte final será motivo de análise detalhada. Outro tema de estudo será a clara oposição entre seqüências mais ruidosas e com maior silêncio:o início do filme tem uma grande intensidade sonora, com forte ambientação de automóveis, e se opõe às seqüências que mostram a cidade cegada, muito silenciosa, com eventuais ambientações de vozes e presença de sons mais delicados. O uso da música, o uso de sons offscreen e o alto-falante do manicômio serão temas também abordados. Pôde ser percebida uma transformação significativa na relação som-imagem se compararmos as idéias do início do processo criativo com seu resultado final. O percurso traçado nesse processo e as razões para os desvios de trajetória serão o tema principal da comunicação |
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Bibliografia | BRESSON, Robert. 2005. Notas sobre o cinematógrafo. São Paulo: Iluminuras
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