ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Cinema brasileiro: Modernismo e Tropicália nos anos 80 |
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Autor | Elizabeth Maria Mendonça Real |
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Resumo Expandido | No final da década de 1960, o cinema brasileiro manteve relações próximas com o movimento modernista que havia marcado a cultura e as artes do país no início do século XX. Tal aproximação inseria-se em um contexto específico marcado pela eclosão da Tropicália. A redescoberta da poesia de Oswald de Andrade pelos poetas concretos e a retomada da noção de antropofagia fizeram emergir novamente o interesse pelas obras dos modernistas.
Na década de 1980, vemos uma leva de filmes que se voltam para o universo modernista. Trata-se menos de adaptações ou versões de obras do que da busca de se travar um diálogo com as ideias do período. Os artistas, fundidos às suas obras, tornam-se também personagens. Em uma primeira visada sobre esses filmes, podemos perceber que a visão sobre as idéias e obras do modernismo de 1922, nos anos 1980, parece ser mediada pela leitura já feita delas no período tropicalista. Neste trabalho, serão analisados dois filmes do período: O homem do pau Brasil, de Joaquim Pedro de Andrade (1981) – no qual o diretor tenta fundir vida e obra de Oswald de Andrade –, e Um filme 100% brasileiro, de José Sette de Barros (1985), que aborda a vinda de Blaise Cendrars ao Brasil. Por retomar questões e temas presentes em filmes anteriores, Ivana Bentes considera O homem do pau brasil como obra síntese do trabalho de Joaquim Pedro. Trata-se do último longa do diretor. Nele, Joaquim Pedro aborda vida e obra de Oswald de Andrade, de forma livre e inovadora. O poeta modernista é dividido em seu lado feminino e masculino, interpretados, respectivamente, por Ítala Nandi e Flávio Galvão. Aspectos biográficos do autor modernista e de sua obra se misturam. Esse tipo de procedimento, aliás, é característico de Oswald, um autor ligado a seu próprio tempo e cuja obra possuía muito de autobiográfico. O homem do pau brasil pode ser visto como uma fonte de referências para abordar o movimento modernista no Brasil. São muitas as informações reunidas num mesmo filme. As músicas utilizadas variam do universo popular ao repertório erudito de Villa-Lobos. Imagens iconográficas evocam gravuras antigas, quadros de Tarsila e de Oswald de Andrade Filho. Os cenários produzidos por Hélio Eichbauer remetem a um ambiente teatral. Todas essas referências culturais, no entanto, estão costuradas pelo tom humorístico que predomina no filme e que tem tudo a ver com a irreverência satírica de Oswald. Segundo o diretor José Sette de Barros, em uma entrevista dada à época de lançamento do filme, Um filme 100% brasileiro pode ser considerado como uma síntese de todo o trabalho que havia realizado até aquele momento, quando já completava vinte anos de cinema: “nele está o melhor que eu fiz. Para mim, foi quando tive mais certeza das coisas que eu queria”, diz o diretor. José Sette pretendeu transpor para a tela o texto de Cendrars sem modificá-lo a fim de manter intacta sua visão poética sobre as coisas brasileiras. O filme afasta-se do realismo: Blaise é vivido por mais de um ator e seu defeito físico é propositadamente ignorado. Utiliza-se do teatro de bonecos e enfatiza a artificialidade dos cenários pintados. Para fazer o roteiro de Um filme 100% brasileiro, Sette baseou-se em uma seleção de textos e poemas escritos por Blaise sobre sua experiência no Brasil. O poeta franco-suíço teve papel fundamental no delineamento da segunda fase do Modernismo, a partir do movimento Pau Brasil, sendo uma espécie de mediador entre os artistas brasileiros e a vanguarda francesa. Ao escolher partir do olhar de um estrangeiro, vindo de Paris, José Sette de certa maneira inverte e ao mesmo tempo reforça a antropofagia que nos caracteriza, que nasce com o Modernismo e revive nos tempos da Tropicália. |
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Bibliografia | ANDRADE, Oswald de. A utopia antropofágica. São Paulo: Editora Globo, 1990.
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