ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Ironia crítica, crítica da ironia e ironias da crítica |
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Autor | Leandro Rocha Saraiva |
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Resumo Expandido | A partir da análise dos procedimentos narrativos de filmes tanto ficcionais quanto documentais, procurarei identificar estilos de ironia narrativa no cinema contemporâneo brasileiro, caracterizando os jogos de perspectiva e avaliação dos personagens e discursos postos em cena. Esta caracterização levará e conta tanto os aspectos especificamente dramatúrgicos – sobretudo o jogo de pontos de vista dentro dos quais os personagens, sejam eles ficcionais ou documentais, agem e falam -, quanto os elementos narrativos de composição especificamente audiovisuais (estilos de decupagem, intervenções e modulações fotográficas no plano, estilo de montagem , comentários e moduções emocionais via edição de som).
Como corpus de análise principal, tomarei três filmes brasileiros recentes. Na ficção, analisarei as formas da ironia em O homem que copiava (Jorge Furtado, 2004), Redentor (Cláudio Torres, 2005) e Os inquilinos (Sérgio Bianchi, 2009). Todos têm como protagonistas os “pequenos homens”, acanhados e acuados em uma vida não só pobre, mas também desalentada. A narrativa faz um duplo movimento, que ao mesmo tempo que constrói a perspectiva desses protagonistas, oscila e se distancia dela, num estilo de não ruptura entre foco narrativo do personagem e instância narrativa impessoal – varaições da forma do discurso indireto livre, característica da narrativa modernista desde Flaubert, que desaloja o narrador de sua instância distanciada clássica, amalgamando discursos. No campo do documentário, o filme analisado será Jesus no Mundo Maravilha (Newton Cannito, 2007). A motivação deste artigo surgiu das críticas a este filme, especialmente a de César Guimarães e Cristiane Lima (“A critica da montagem cínica”, Doc Online, no.7), mas também as de Cezar Migliorin, a defesa do filme por Jean Claude Bernardet, em seu blog, e os debates nao transcritos ocorridos no âmbito do DOC TV. Esta comunicação tentará analisar os pressupostos teóricos da critica de Guimarães, que, acredito, conceitualizar uma posição estética hoje dominante no documentário brasileiro: uma leitura de Deleuze sob a ótica de Comolli e Bazin, que recusa a retórica em defesa de uma expressividade não controlada pelo narrador-diretor, defendendo filmes de “baixa narratividade” como forma de resistir ao controle da indústria cultural. Esta proposta será criticada, defendendo a análise fílmica como análise de retórica audiovisual (com inspiração no trabalho de Bordwell, num nível mais técnico, e de Ismail Xavier, na análise do campo cinematográfico brasileiro). Ainda que a posição critica em questão seja dominante no documentário, algo de seu partido estético influencia a apreciação dos filmes de ficção, ao menos por parte da critica especializada. Analisaremos também essa relação. |
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