ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | A Santificação prlo Sangue do Inocente em "Abril despedaçado", de Walter Salles |
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Autor | Miguel Serpa Pereira |
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Resumo Expandido | O deslocamento espacial para o Nordeste brasileiro, promovido por Walter Salles, ao adaptar para o cinema o livro de Ismail Kadaré, não retira o sentido da tragédia que está no original albanês. Embora usando de sua liberdade criativa para promover e ressaltar elementos da cultura bíblica ocidental, Walter Salles constrói um relato cinematográfico identificado por seu intenso humanismo em contraposição ao absurdo da vendeta, uma verdadeira tragédia, que está no livro de Kadaré. Assim, importa menos o processo de transição do texto literário para o filme e mais os elementos que, no filme, levam aos conceitos bíblicos e ao processo de santificação pela redenção.
No seu Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, André Comte-Sponville arrola dezoito títulos ou nomes que representam e definem o que poderia se chamar de um “homem virtuoso ou santo”. Não que todos esse atributos componham o “homem ideal”, como um tipo a ser modelado. No entanto, mesmo que isso não seja observável no conceito da vida cotidiana, o espaço da transcendência joga uma certa luz sobre essa contradição entre a busca da virtude e transgressão a esse bem que foge à contingência do existir. Quando Susan Sontag fala da forma da obra como “arte reflexiva”, referindo-se ao cinema de Robert Bresson, entende esse lugar como o “prolongar ou retardar emoções” (SONTAG, 1987), entre tantos outros procedimentos de um estilo espiritual do cinema do cineasta francês. Já Paul Schrader define o sagrado presente em três cineastas de culturas diferentes, Ozu, Bresson e Dreyer, como o transcendente (SCHRADER, 2002). Abril despedaçado (2001), de Walter Salles, compõe um quadro no qual o processo narrativo colhe elementos constitutivos não apenas da santificação mas do transcendente enquanto elemento do trágico em que se constituem personagens, situações e ambiente físico. É mais do que batido que a Bíblia narra histórias sangrentas. Na verdade, o sangue cristão é redentor dos males. Santifica, pelo exemplo e virtudes, o mundo que se torna símbolo sagrado. Assim, o mal, como a vingança, só é expiado no teatro da tragédia, com o sangue do inocente. O humano mais humano é a relação entre Tonho e Pacu. Mas, o imanente mais transcendente, é o sacrifício redentor. É o santo inocente. Pretendemos analisar, no texto, como Walter Salles constrói essas relações entre opostos através de uma estética centrada em elementos simbólicos de um percurso de grande rigor estilístico e de uma intensa arte reflexiva. |
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Bibliografia | ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982
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