ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | A Santificação do Filme: o produto e o evento. |
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Autor | Luiz Vadico |
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Resumo Expandido | Ao estudarmos o Campo do Filme Religioso chamou-nos atenção os vários aspectos que relacionavam algumas das suas produções com o processo de elaboração da Arte Sacra. Este tipo de arte, normalmente associado às igrejas e às manifestações religiosas em geral, conhecida pelas suas representações na pintura, escultura e música, não se traduzia num conceito eficiente para explicarem os comportamentos que encontramos ao longo da história dos filmes religiosos. Buscamos então, dialogar com um teórico pouco explorado e pouco convencional, Titus Burckhardt, filósofo e escritor suíço-alemão. Em seu livro, A Arte Sagrada no Oriente e no Ocidente - Princípios e métodos (1959), buscou estabelecer o conceito de Arte Sagrada, o qual discutimos no início deste trabalho.
Nem todos os filmes do Campo do Filme Religioso passam pelo processo de “sacralização” ou “santificação”, mas ele ocorre e reflete uma tradição comportamental bastante antiga. Este comportamento já havia sido observado durante a Idade Média, e em alguns outros momentos da história, os artistas ao realizarem o seu trabalho preocupavam-se em fazê-lo como um ato sacral (Burckhardt, 2004: 19), jejuavam, oravam, meditavam sobre os símbolos adequados a serem utilizados, em busca de uma inspiração que viesse de Deus para que a representação pudesse dignamente manifestar o sagrado e permitir com ele um contato. Os ícones bizantinos, gregos e russos são um bom exemplo deste tipo de produção (Gharib, 1997). Também os pintores do século XIX chamados de Pré-Rafaelitas buscaram este “estado especial” para realizarem suas obras (Argan, 1992: 103). Na pesquisa, ao longo da história do cinema, observamos vários aspectos deste fenômeno, os gestos – e a intenção - de santificação em torno do produto midiático, visto como processo, produto, e uso. Analisamos um extenso conjunto de filmes, do qual destacamos “Da Manjedoura à Cruz” (Ollcott, 1912), “O Rei dos Reis” (DeMille, 1927), “Os Dez mandamentos” (DeMille, 1926/1956), “A Maior História de Todos os Tempos” (Stevens, 1965) e “A Paixão de Cristo” (Gibson, 2005). Primeiramente verificamos o desejo de criar um objeto “puro” através de um comportamento “puro” (produtores, diretores, atores, técnicos, etc) diretamente relacionado ao sagrado, vimos também as formas empregadas para tanto. Verificamos que a “santificação” se estendeu também ao local de exibição e notamos a transformação de um território profano, num espaço relativo às coisas do sagrado. E, bastante relacionado a este fato, mas não a ele atrelado necessariamente, o aspecto do evento, como uma forma de emprestar santidade ao produto midiático. Expandindo essas primeiras conclusões, pudemos perceber o importante dado da temporalidade, como se estabeleceu uma estreita relação entre o produto midiático e o calendário litúrgico e para além disso, com a duração do tempo da projeção, onde se instaura uma temporalidade típica do sagrado. E, enfim, o último aspecto, mas que se encontra estreitamente relacionado a todos os outros, aquele que dá um fim social a este produto, o do seu uso para a benemerência, que observamos, tem mão dupla, qualifica e santifica o promotor do evento e qualifica sacralmente o uso que se faz do objeto midiático. Não iremos especular sobre o estranho fato de que o filme, como um produto objetificável não se torna de forma alguma em algo santo. Ele não passa por um processo de fetichização coletiva. Mas, como vimos, o fato é que o produto midiático do Campo do Filme Religioso provoca comportamentos e usos semelhantes aos da Arte Sagrada. |
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Bibliografia | BAUGH, L. 2000. Imaging the Divine. Jesus and Christ-figures in Film. Franklin, Sheed & Ward, 338 p.
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