ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Modernidade,modernismo,cinema: mudança cognitiva do homem da metrópole |
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Autor | Flávia Campos Junqueira |
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Resumo Expandido | Entre os séculos XIX e XX diversas mudanças puderam ser observadas decorrentes da industrialização e urbanização que avançavam a todo vapor. Enquanto as fábricas produziam bens de consumo em larga escala, as cidades atraíam trabalhadores do campo que vislumbravam melhores perspectivas de vida. A velocidade da produção fabril ecoava nas ruas com os primeiros automóveis e bondes elétricos, assim como as informações ressoavam por todos os lados por meio de jornais ilustrados, cartazes publicitários, da fotografia e do cinema. Neste contexto, a atenção da população obrigatoriamente teve de se tornar mais perspicaz.
A Revolução Industrial permitiu o avanço da sociedade rumo ao desenvolvimento urbano e, consequentemente, possibilitou mudanças profundas na cognição humana. A emigração populacional dos campos para as cidades provocaria mais que a exploração do assalariado e novas formações de classe, mas também levaria o homem a pensar de maneira diferente. Na tentativa de compreender a alma cultural da vida moderna, Georg Simmel (1979) defende o século XVIII como momento de libertação do homem de suas dependências históricas – o Estado, a religião, a moral e a economia. Da perspectiva materialista podemos afirmar que as noções de tempo e espaço advêm dos processos materiais empregados na reprodução da vida social. Nas palavras de David Harvey “cada modo distinto de produção ou formação social incorpora um agregado particular de práticas e conceitos do tempo e do espaço” (1992, p. 189). Faz-se necessário lembrar que a experiência subjetiva leva a diferentes percepções de tempo e espaço em qualquer época da humanidade, mas conforme Harvey consideramos importante reconhecer “a multiplicidade das qualidades objetivas que o espaço e o tempo podem exprimir e o papel das práticas humanas em sua construção” (1992, p. 189). Neste contexto de reajuste do sentido de tempo e espaço as artes passaram por uma crise de representação. No momento em que certa experiência deixa de ser uma vivência única, podendo ser disseminada por diferentes espaços simultaneamente, a experiência individual perde seu sentido. O período moderno foi instigante para os artistas que buscavam algo diferente das regras pictóricas de séculos. A tecnologia empregada para fins culturais como a fotografia e o cinema traziam novas possibilidades aos artistas em compasso com seu tempo. Mesmo movimentos que não utilizaram diretamente a tecnologia em suas produções foram, de alguma forma, influenciados por ela, fosse para criticá-la ou para exaltá-la. Influenciados pelas idéias de Benjamin, podemos afirmar que no veloz contexto moderno o cinema representou a ascensão do visual como discurso social e cultural, fato que se tornou comum a partir de então. Este foi um importante fator responsável pela reestruturação do olhar. Após a Primeira Guerra, enquanto o mundo passava por momentos difíceis, os russos viram no discurso modernista uma grande janela de expressão de suas ideologias. Encontraram ali espaço para importantes experimentações artísticas, principalmente no formalismo e no construtivismo. Neste contexto, o cinema construtivista utilizou ao máximo os recursos de seu meio, criando uma linguagem rápida, de cortes ágeis, e quebrando a linearidade da narrativa até então habitual. Essas características podem ser observadas na obra Um homem com uma câmera, de 1929 do cineasta Dziga Vertov. Neste sentido, é particularmente clara a idéia de Vertov segundo a qual o Cine-Olho (expressão criada para nomear sua própria concepção do cinema) seria uma forma de visão não só mais eficaz como também mais adequada para dar expressão à vida moderna. |
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Bibliografia | BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. São Paulo: Brasiliense, 1994
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