ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Efeitos visuais e montagem: forças complementares e antagônicas |
|
Autor | Roberto Tietzmann |
|
Resumo Expandido | A narrativa resumida de King Kong gira em torno de um gorila gigante que é trazido de uma ilha exótica para Nova Iorque com o objetivo de ser apresentado como um espetáculo. Revoltado e atraído por uma mulher, escala o prédio mais alto da cidade e é tomado como uma ameaça à saúde e bem-estar dos cidadãos, sendo prontamente abatido. Esta linha-mestra da história é comum aos filmes de 1933(Merian Cooper e Ernest Schoedsack), 1976 (John Guillermin) e 2005 (Peter Jackson). A sequência que analisaremos inicia com o gorila gigante solto nas ruas de Nova Iorque após libertar-se do espetáculo de que era a atração principal e segue a destruição que ele promove pela cidade, passando pela recaptura da garota e culminando na escalada do prédio final. As três versões foram realizadas em momentos distintos da história da tecnologia e do cinema, a partir de um momento onde as convenções de decupagem e montagem já haviam sido em grande parte estabilizadas. No primeiro, Cooper e Schoedsack operavam em uma indústria que apenas há pouco padronizara o som sincronizado à imagem. No segundo estão presentes na tela os últimos dias dos efeitos visuais exclusivamente fotoquímicos no cinema além de atualizações da trama que desviaram-se dos conflitos originais. No último temos um filme feito por um fã, o diretor Peter Jackson, que obsessivamente relê o original de 1933 e o expande com pertinência. Situado em um momento onde os efeitos visuais possibilitaram a síntese quase completa da imagem, o terceiro Kong busca ser a visão total da narrativa original libertado por completo das restrições técnicas que os anteriores encontraram. A partir da observação e análise dos três King Kong ficam evidentes relações de continuidade e rupturas. Há uma continuidade e uma constância na maneira de contar as histórias. Os três filmes são pautados por uma progressão linear de tempo onde as histórias progridem de maneira irreversível. Exceto por um momento de flashback no primeiro Kong de 1976, o tempo nos demais segue em frente valendo-se das convenções habituais a outros filmes. Existem rupturas tecnológicas internas ao processo de realização. O maquinário de produção dos filmes do gorila mudou inteiramente entre um Kong e o seguinte. A experiência do espectador, no entanto, somente percebe os reflexos desta mudança desenhadas nas imagens presentes na tela. A substituição de tecnologia nos bastidores da realização busca sempre ampliar seus resultados na tela sem perseguir uma ruptura integral com a maneira com que os filmes dialogam com seus espectadores. Atribuímos isto a um desejo de estar em contato com o público através dos filmes por parte dos realizadores e também a uma necessidade de consistência por parte da indústria que favorece a manutenção de convenções e usos preferenciais das tecnologias. Bordwell, Staiger e Thompson (1988) apontam que a apropriação de tecnologia pelo cinema norte- americano tende a não conduzir a uma emancipação dos criadores, mas sim a potencializar fórmulas já conhecidas com pequenas variações, uma vez que o controle sobre a imagem também se aprimora. Nesta sequência o diálogo entre montagem e efeitos visuais é intenso porque há a necessidade de reunir gorila, cidade e humanos nos mesmos planos e produzir maneiras de facilitar esta interação. Os três filmes seguem as convenções de montagem de seus períodos históricos mas as fazem dialogar com os efeitos de composição de imagem, maquetes e modelos em grande escala de King Kong. A partir deste diálogo se estabelecem estruturas recorrentes na montagem buscando a legitimação das imagens produzidas com auxílio dos efeitos visuais bem como a necessidade de construir a decupagem e seu corte ao redor das limitações impostas pelas imagens de síntese nos três períodos históricos. |
|
Bibliografia | BORDWELL, David; STAIGER, Janet; THOMPSON, Kristin. The Classical Hollywood Cinema:
|