ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Lágrimas reais: o realismo como apelo à comoção emocional |
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Autor | Emília Maria da Conceição Valente Galvão |
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Resumo Expandido | Ao convocar a lágrima da platéia, as obras ficcionais convidam o espectador a ingressar num jogo lúdico que combina dor e prazer, tristeza e entretenimento. Este artigo foi desenvolvido como parte de uma pesquisa em andamento sobre modos de promoção de efeitos de comoção emocional em narrativas audiovisuais de ficção. Um dos objetivos desta pesquisa é entender a lógica de funcionamento dessas estratégias e o modo como elas operam. Nesse sentido, o filme Damçando no Escuro (Dancer in the Dark, 2000) de Lars Von Trier, fornece um exemplo curioso.
Vncedora, em 2000, da Palma de Ouro e do Prêmio de Melhor Atriz em Cannes (para a cantora islandesa Björk), a produção foi lançadaa cinco anos depois do lançamento do movimento Dogma 95, que pregava a adoção de restrições técnicas aos diretores, dentro de uma retórica de defesa da da "autenticidade" e da "verdade" em cinema. Nesse sentido, tanto Dançando no Escuro como outros filmes da mesma fase do diretor - m especial Os Idiotas (Idioterne, 1998) - são considerados exemplos de uma certa tendência realista do cinema contemporâneo caracterizada, entre outras coisas, por uma hibridização maior entre documentário e ficção e pela recorrência do recurso à exposição dos meios técnicos de produção. Neste cenário, Dançando no Escuro se distingue por realizar um programa de efeitos sentimentais a partir de uma combinação rara entre hiper-realismo e os excessos da narrativa melodramática. Para tentar desvendar como se dá esta articulação, o artigo se detém numa análise textual do filme e numa investigação sobre as aspectos da controversa discussão sobre a problemática do realismo em cinema. A perspectiva é que o exercício de interpretação traga insights úteis para o debate teórico e vice-versa. A discussão sobre em que medida o cinema reproduz ou reorganiza os dados da realidade pró-fílmica opôs as teorias fílmicas clássicas por décadas, criando dicotomias que persistem até hoje. A análise das estratégias adotadas em Dançando no Escuro oferece um exemplo prático para tensionar estas contraposições. Dispensando regras clássicas de montagem e adotando um estilo que simula uma filmagem espontânea, o filme de Lars Von Trier busca na referência ao dispositivo cinematográfico um valor de verdade para as suas representações. Esta estratégia parece se basear na percepção de que, numa sociedade onde a presença da câmera é banalizada, a opção por revelar a presença da câmera ou de outros aspectos da filmagem parece ter um efeito menos de desvendamento, de ruptura em relação ao pacto de ilusão da narrativa, do que de validação deste pacto, referendando-o a partir de um apelo testemunhal ao real: "Foi filmado, logo existe" Nesse sentido, o artigo defende que a estética realista utilizada por Lars Von Trier em Dançando no Escuro tem como objetivo intensificar a identificação do público com a narrativa, de modo a contribuir para o intenso efeito emocional que o filme é capaz de promover, como uma releitura contemporânea de tradicionais estratégias do melodrama e da tragédia. |
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Bibliografia | LUMHOLDT, Jan (org.). Lars Von Trier: interviews. EUA. University Press of Mississipi, 2003
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