ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Acaso, morte e significação no documentário Um corpo subterrâneo |
|
Autor | Patrícia Costa Vaz |
|
Resumo Expandido | Este trabalho propõe uma leitura do documentário Um corpo subterrâneo (2007), do cineasta Douglas Machado, a partir da noção de “vida social do discurso” proposta por Mikhail Bakhtin. Buscaremos explicitar elementos narrativos relacionados às representações da linguagem no contexto audiovisual. Nessa perspectiva, o vídeo se destaca como arte dialógica, outro conceito caro a Bakhtin, através do qual a presença e entrelaçamento de várias instâncias enunciadoras sugerem uma dimensão polifônica ao discurso, dominado por um movimento contínuo de idéias em interação. (BAKHTIN, 1993) Da complexidade dialógica presente em um vídeo fazem parte: os diálogos, as interações entre os planos e seqüências provocadas pela montagem, entre as imagens e a trilha sonora, entre cenários, personagens e figurinos, para citar alguns dos elementos compositivos da linguagem audiovisual, o que faz do cinema um meio de “muitos canais”. (GATTI, 2003, p.28) No documentário citado, Machado faz uma viagem do norte ao sul do Piauí percorrendo seis cidades. Em cada uma delas o ponto de partida é um cemitério. Nele, o diretor identifica um túmulo recente, procura os familiares deste falecido e, a partir de relatos dos parentes e amigos, reconstrói a imagem do morto e de cada um desses indivíduos permeado pelo luto. No final das entrevistas a câmera é entregue a um dos parentes para que este faça também um registro pessoal (sobre e/ou para o morto) com a câmera. As imagens e falas captadas por Machado e pelos familiares, guiadas através dos cômodos da casa e dos pertences do falecido montam um mosaico das preferências daqueles que se foram – um diagrama do que cada um foi na memória dos que ficaram. Elas captam ainda as representações da morte, expressas em cada entrevistado. Nosso objetivo aqui é analisar a escolha das palavras, dos objetos e locais e também os gestos, as expressões faciais, as vestimentas, cabelos... dos entrevistados – tudo que se apresenta à câmera e que ela consegue registrar. Ver e ouvir o que cada família traz à tona é interessante. E ainda, entender como falar sobre a morte, o morto, pressupõe um querer se mostrar que parte de um desconhecimento de como o outro (Douglas e nós, espectadores) apreenderá esse discurso. Douglas Machado (há mais de 20 anos produzindo filmes e documentários em diferentes países como Brasil, Suécia, Espanha e El Salvador) trabalha sua produção na perspectiva desse encontro com o entrevistado, suas reações, falas e contexto encapsulados em um momento único de interação e significação. Essa valorização do encontro não se restringe aos diálogos entre personagens ou a conversa entre o diretor e os personagens, ela se mostra também na preocupação em respeitar e ‘ler’ o discurso sonoro-visual: as expressões faciais, as hesitações, os movimentos do corpo, cores, formas, volumes, silêncios e ruídos como parte do universo lingüístico. |
|
Bibliografia | ARIÈS, Philippe. História da morte no Ocidente. Tradução de Priscila V. de Siqueira. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977.
|