ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Bodanzky e a Amazônia – notas sobre uma filmografia |
|
Autor | Gustavo Soranz |
|
Resumo Expandido | Esta apresentação busca analisar parte da filmografia do cineasta Jorge Bodanzky, particularmente a filmada na Amazônia. Sua obra tem uma relação muito próxima com a região, que ele documenta desde a década de 1970, produzindo uma série de filmes, alguns dos quais fundamentais na história do cinema brasileiro e que ajudaram a estabelecer uma imagem da Amazônia no imaginário internacional, graças à co-produção de certos trabalhos com a TV Alemã, o que garantiu a exibição desses em TV aberta na europa. Nas últimas décadas o diretor voltou continuamente à região, construindo uma filmografia que permite acompanhar suas constantes mudanças, apontando questões sociais, ecológicas e de desenvolvimento econômico que ganharam repercussão nacional e internacional.
“Iracema – uma transa amazônica” (1974) e “Terceiro Milênio” (1980) foram produzidos em plena ditadura militar e ajudaram a denunciar as fraturas do discurso oficial proclamado pelo regime de então em relação à Amazônia, tomada como região estratégica e área de segurança nacional, onde foram implantados mega projetos de intervenção em nome de desenvolvimento acelerado. Em oposição ao discurso ufanista oficial, o cineasta adentra as entranhas da transamazônica, revelando as cores e agruras de seu povo. Em viagens pela Amazônia profunda, o cineasta encontra uma realidade desconhecida pelos grandes centros urbanos, revelando aspectos outros de um país continental e multicultural. A denúncia dos problemas dos grandes projetos para a Amazônia também estão em “Jari” (1979), filme que acompanha uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) responsável por investigar a devastação da Amazônia, adentrando no polêmico projeto do milionário norte-americano Daniel Ludwig, revelando o desmatamento da região e a condição precária de vida dos trabalhadores. Em “Igreja dos oprimidos” (1985), mostra os conflitos de terra no sul do Pará e a atuação dos movimentos eclesiais de base da igreja católica e dos movimentos camponeses na questão. Graças a um circuito alternativo fomentado pelos cineclubes, seus filmes circularam pelo país à margem do circuito exibidor comercial, apesar da censura a alguns títulos. Posteriormente o cineasta esteve envolvido como cinegrafista ou co-diretor em outras produções realizadas na região amazônica, especialmente iniciativas destinadas à televisão européia, onde os povos indígenas começaram a aparecer como protagonistas, material que infelizmente não foi distribuído no Brasil. Mais recentemente, o filme “Navegar Amazônia – uma viagem com Jorge Mautner” (2006) acompanha uma das viagens do projeto Navegar Amazônia, desenvolvido pelo cineasta, que consiste em um barco regional equipado com laboratório multimídia que percorre comunidades ribeirinhas na calha dos rios amazônicos, levando oficinas de música, cinema e fotografia. Nesta fase recente podemos identificar uma outra percepção da Amazônia, mais ligada ao cotidiano de seus moradores e povos tradicionais. No filme "De volta ao terceiro milênio" (2009), Bodanzky volta ao alto solimões, local que visitou nas filmagens do longa "Terceiro milênio", reencontrando os Ticuna, personagens importantes da filmagem original, refletindo sobre o que ficou e o que mudou em sua situação. Seu último filme “No meio do rio, entre as árvores” (2009), leva adiante as experiências compartilhadas com a população ribeirinha da Amazônia, apresentando-os como sujeitos de sua própria história. Jorge Bodanzky adentrou a floresta amazônica e revelou a complexidade social e cultural existente por debaixo do tapete verde formado pelas copas das árvores, imagem clichê da floresta amazônica. Uma observação desse conjunto de filmes pode contribuir para uma reinterpretação da Amazônia para além dos determinismos presentes em muitas das interpretações clássicas da região, com a emergência de novas identidades coletivas e de sujeitos sociais organizados, em oposição às “ficções biologizantes, bem como os sujeitos biologizados” (Wagner, 2008) |
|
Bibliografia | D’INCAO, Maria Angela e SILVEIRA, Isolda Maciel da. (Orgs). A Amazônia e a crise da modernização. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 1994
|