ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | A trilha musical e o jogo poético audiovisual |
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Autor | Claudiney Rodrigues Carrasco |
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Resumo Expandido | Este trabalho propõe uma abordagem da música em sistemas audiovisuais, sob a óptica da noção de jogo apresentada por Johan Huizinga em seu clássico trabalho intitulado Homo Ludens. Huizinga vê no jogo uma princípio arquetípico da psique humana, que marca as mais diversas atividades do homem, mesmo aquelas tidas, aparentemente, como totalmente distantes dele. Não escapa de sua análise a poesia, a arte e a música, cujo componente lúdico se manifesta em diversos aspectos, desde sua concepção, criação e execução, até sua recepção pelo público. O caminho apontado por Huizinga nos instiga a buscar os elementos lúdicos presentes na articulação poética de sistemas complexos, como o é o audiovisual, em que múltiplas linguagens se relacionam e se interferem mutuamente, bem como no processo de recepção por parte do espectador, quando esse complexo de linguagens é processado e pode ser compreendido como uma peça artística unitária.
Trata-se, portanto, de um trabalho conceitual, e não de uma pesquisa experimental. O autor parte do princípio que a fundamentação teórica de Huizinga abre a possibilidade de uma vasta exploração teórica no campo das artes e das teorias relativas aos seus aspectos cognitivos, seja no que diz respeito aos processos criativos, seja no que se refere à recepção e interação do espectador com a obra. Huizinga dedica três capítulos de seu trabalho ao estudo das características lúdicas de formas artísticas. Sua análise é minuciosa, mas ele não chega a levantar a discussão dos processos de articulação dessas formas em suas especificidades. A aplicação de seus fundamentos às convenções de articulação de cada uma das formas de expressão artística fica, portanto, à espera de novas investigações. Muitos são os trabalhos que podem derivar de sua teoria. A aplicação desses princípios ao processo articulatório de formas audiovisuais, com especial ênfase no papel da música nesse processo, aqui proposta, é apenas uma das possibilidades de estudo da arte a partir dos princípios de Huizinga. Os trabalhos sobre trilha musical têm como referencial teórico, no presente momento, uma gama muito restrita de trabalhos. É quase inevitável para o pesquisador adotar os conceitos e a terminologia desenvolvidos por esses teóricos. Sem dúvida, tais trabalhos disponibilizam ferramentas para a análise e compreensão do assunto, mas em muitos casos limitam a abrangência da pesquisa. É urgente que se proponha novos caminhos teóricos. O estudo de peças audiovisuais em geral e de suas trilhas musicais em particular sob o ponto de vista dos princípios propostos por Huizinga tem demonstrado que essa abordagem pode gerar uma imensa gama de estudos, constituindo-se em uma via teórica complementar para essa área de pesquisa. As convenções de articulação poética de peças audiovisuais geram tipos de organização da informação similares às encontradas em sistemas lúdicos, guardadas as devidas especificidades de cada um dos sistemas. O jogo é um sistema que é dado, que existe a priori, mas que se efetiva apenas pela ação do jogador. De modo similar, a obra de arte é o resultado de um processo que se apresenta como proposta do artista, mas que se completa apenas no momento de sua recepção. A aproximação com os estudos sobre os processos lúdicos possibilita compreender a obra de arte na totalidade desse seu processo, incorporando o momento em que ela se efetiva, que é o da recepção. O espectador, entendido como “jogador”, torna-se agente criativo, podendo ser visto, então, como co-autor, pois o “jogo” só se completa no momento em que ocorre a participação desse agente. Estamos diante, portanto, de uma abordagem teórica que não se restringe à obra, entendida apenas em suas relações internas, mas incorpora o processo de recepção e cognição. |
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Bibliografia | CARRASCO, Ney. O compositor camaleão. In: Anais do I SINCAM, pgs. 46 a 52. Curitiba: UFPR, 2005.
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