ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | O sujeito observador e os modos de fazer ver no cinema documentário |
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Autor | Thalita Cruz Bastos |
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Resumo Expandido | O cinema, desde os seus primórdios, esteve relacionado a mudanças e inovações culturais, sociais e tecnológicas. Walter Benjamin em A Obra de Arte na época da reprodutibilidade técnica coloca que a grande contribuição do cinema está na sua capacidade de treinar o espectador através de imagens para a experiência da modernidade. Ampliando esse apontamento, pode-se dizer que o cinema propicia experiências subjetivas pelas quais o sujeito interioriza concepções e visualiza as coisas do mundo, estabelecendo, assim, formas de síntese perceptivas que permitem a ele dar conta do grande número de estímulos visuais e auditivos que recebe no seu cotidiano.
A proposta desse paper é analisar as aplicações dos conceitos de visibilidade e sujeito observador, desenvolvidos por Michel Foucault, na produção documental contemporânea, focando o trabalho do cineasta Eduardo Coutinho. O objetivo é buscar compreender como, através de estratégias de dar a ver e dizer do real, é possível chegar a uma reconfiguração dos modos de ver o mundo e aquilo que é considerado realidade, tendo como recorte o documentário de Eduardo Coutinho e as estratégias cinematográficas utilizadas pelo documentarista que possibilitam repensar visões de mundo e do real. Segundo Deleuze (1995, p. 68), em seu livro Foucault, percebemos que cada época “vê e faz ver tudo o que pode, em função de suas condições de visibilidade, assim como diz tudo o que pode, em função de suas condições de enunciado”, isto é, mostrar o que alcança e aquilo que considera pertinente de ser visto. A realidade no cinema, segundo Jacques Aumont, estaria sujeita a convenções sociais, as quais ideologias predominam em uma sociedade, o que é considerado como visível e enunciável, sendo que o autor afirma que só pode haver realismo em culturas que possuam uma noção de real que lhes seja cara, e a partir dela se compreende o que é representação de real nas artes, no cinema. No contexto do documentário, a questão da realidade e a sua representação ganha proporções maiores uma vez que o objeto de interesse dos documentários é a realidade. É na relação entre a realidade e a parcela do real que é mostrada em um documentário, juntamente com a forma como isso é mostrado, que permite a reconfiguração nos modos de ver de uma sociedade, através do questionamento da imagem mostrada como algo que não necessariamente pertence à realidade, mas que diz dela e é representativa nesse sentido. Neste paper, analisaremos quais são as relações entre visibilidade, sujeito observador na produção documental contemporânea, tendo como exemplo a obra de Eduardo Coutinho, que permitem ao sujeito observador questionar as imagens que lhe são dadas a ver. Assim, trataremos dos conceitos de documentário desenvolvidos por Bill Nichols e Fernão Ramos, de visibilidade desenvolvido por Michel Foucault através dos trabalhos de Gilles Delleuze e John Rajchman, as questões da atenção e do sujeito observador desenvolvidas por Johnathan Crary. O documentário faz parte das formas através das quais faz-se ver e diz-se do real, e a maneira como o mesmo articula suas técnicas e estéticas para realizar isso está diretamente ligado não só aos modos de ver da sociedade na qual ele é produzido, como também com a capacidade do cineasta em tornar visível as questões que permeiam a sua sociedade. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques et alli. A estética do filme. São Paulo: Papirus, 1994.
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