ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Uma análise para o cinema que recorta permanências na história |
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Autor | Alfredo Dias D Almeida |
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Resumo Expandido | Como fonte e objeto de pesquisa na área das ciências sociais, os documentários que registram aspectos culturais de uma determinada comunidade, de um grupo social ou de um indivíduo configuram-se como um instrumento diferenciado, singular para a compreensão de uma determinada realidade, pois possibilitam um recorte no tempo e no espaço de permanências culturais, com uma riqueza de detalhes dificilmente alcançada por qualquer outro meio de registro.
Todo produto audiovisual, incluindo o documentário, é um fenômeno comunicacional complexo, que envolve recursos discursivos linguísticos e não-linguísticos, articuladas para a produção de sentido. O documentário, em especial, é ainda o resultado da interação ou do embate entre diferentes sujeitos de diferentes culturas, a do sujeito-narrador e a do sujeito “documentado”. Como, então, proceder à sua análise? Analisar a interação entre essas diferentes culturas pressupõe entendê-las como textos, ou estruturas em que se podem ler diferentes discursos sociais, com diferentes significados. Ou seja, interpretar o que está dito e o que está não-dito em cada discurso e no discurso complexo gerado pela relação de uns com os outros num grupo de discursos, da mesma maneira que um psicanalista interpreta um sonho e com as mesmas ressalvas: para identificar seu significado, ou significados, tomando por base o universo simbólico do produtor do discurso (GEERTZ, 1989, p. 3-21). O significado dos discursos, porém, não se esgota em si mesmo. Discursos são parte integrante de um determinado contexto sócio-histórico, e não algo externo aos conflitos sociais. O contexto sócio-histórico é determinante na produção, circulação, manutenção ou transformação das representações que as pessoas fazem de si e das “teias de significado” que formam as relações e identidades que se definem numa sociedade. O discurso é uma prática social. Ele estabelece uma relação dialética com a estrutura social. Ao mesmo tempo em que o discurso se afirma como um dos princípios estruturadores da vida social, é por ela estruturado e condicionado. E, como prática social, ele não pode ser entendido separadamente das práticas não-discursivas. Com base nesse referencial, proponho uma metodologia de análise fílmica que envolve duas formas de compreensão inseparáveis e interpenetráveis, contextual e internamente. Para a abordagem interna dos filmes, apóio-me em Jean-Claude Bernardet (1985, p.183), para quem a análise de um filme pressupõe “descobrir mecanismos de composição, de organização, de significação, de ambigüidade, estabelecer a coerência ou as contradições entre estes mecanismos”. Nesse movimento, procede-se a uma descrição interpretativa dos discursos envolvidos, apreendendo as estruturas de significados a partir dos quais esses discursos ganham inteligibilidade. Num movimento complementar, para analisar externamente o filme, os discursos são discutidos de acordo com seus contextos de produção, os quais também lhes cobram sentido. Aqui, discute-se como os filmes se inserem no panorama político-cultural do lugar e da época de sua realização e as condições de construção de seus discursos. Verifica-se que “regras” esses discursos estabeleceram; e como e por que certas manifestações culturais, entre todas as possíveis, passaram a constituir objeto de estudo e de registro dos cineastas. A título de exemplicação para a metodologia de análise proposta, serão discutidos dois documentários da década de 1960: Quilino (1966), de Jorge Prelorán e Raymundo Gleyzer, sobre a arte plumária e em palha das mulheres de Quilino (Argentina), e Vitalino/Lampião (1969), de Geraldo Sarno, sobre o artesanato de barro no Nordeste brasisleiro. |
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Bibliografia | BERNARDET, Jean-Claude. Cineastas e imagem do povo. São Paulo: Brasiliense, 1985.
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