ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | Encenação, construção dramática e cinematografia em Tormenta (1930): c |
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Autor | Flávia Cesarino Costa |
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Resumo Expandido | Esta comunicacão pretende discutir o filme Tormenta, dirigido em 1930 por Arthur Serra e fotografado por Igino Bonfioli em Belo Horizonte. Procuro analisar a estrutura dramática e a trajetória dos personagens, bem como características de encenação e cinematografia, destacando ainda questões suscitadas pelo processo de restauração da cópia depositada na Cinemateca Brasileira, usada para o estudo. Tal abordagem decorre de discussão coletiva ensejada por grupo de pesquisadores que analisa filmes silenciosos do acervo da instituição.
Inspira nossa proposta a idéia da pertinência de utilizarmos a herança cultural escravista brasileira na comparação entre as categorias dramáticas de vilão e justiceiro nos filmes brasileiros e no modelo norte-americano, proposta por Luciana Corrêa de Araújo em comunicação na Socine de 2009, que versou sobre o filme Tesouro Perdido (1927), de Humberto Mauro. Na ocasião, a autora propôs a idéia de que há nos filmes brasileiros uma cisão entre galã e herói, sendo que o herói tem o trabalho de enfrentar condições adversas e opositores para constituir-se (o herói norteamericano ou o trabalhador brasileiro), enquanto que o galã não teria o ônus de lutar para ser o que é (qualidade de classe das elites locais). Em Tormenta, o drama se concentra na figura do jovem Daniel, que alimenta um forte sentimento de vingança depois que seu pai Jacques, compositor da peça para piano “Destino”, é assassinado por Julio Guuimarães. Daniel apaixona-se por Lúcia, que cura as feridas de seu ódio até o momento em que se revela parte da família Guimarães. No enredo, misturam-se elementos da cultura rural mineira e de uma suposta musica erudita configurada na partitura composta pelo pai de Daniel. Figuras femininas modernas entremeiam-se a relações familiares pouco claras. Uma série de ambiguidades convocam o trabalho de análise. O alto contraste fotográfico em Tormenta suscita também perguntas sobre o papel das condições de filmegem e da posterior restauração do filme. É um dado de época que no Brasil, até 1930, só se vendia, segundo Hernani Heffner, negativos monocromáticos. Isto fazia com que só o que fosse muito iluminado não caísse na obscuridade e que houvesse um alto contraste nas imagens. Daí que tal característica não seria necessariamente um dado estético, mas uma necessidade técnica. Isto coloca a possibilidade de modular o entendimento de características da imagem entre fatores técnicos e estéticos. |
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Bibliografia | MARQUES, Alexandre Pimenta. O registro inicial do documentário mineiro: Igino Bonfioli e Aristides Junqueira, Dissertação de Mestrado, Belo Horizonte, Escola de belas Artes, UFMG, 2007.
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