ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | L for LOST |
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Autor | Glauco Madeira de Toledo |
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Resumo Expandido | LOST não se pretende realista, mas pretende-se verossímil. Então o espectador deve ser levado a crer que, naquela ilha, certas coisas são possíveis. Cria-se um enredo com tramas de suspense, mistério, ficção científica e sobrenatural. Para atingir a verossimilhança, é necessário que os argumentos e pontos de virada sejam coesos.
Os espectadores de LOST criam fóruns, blogs e comunidades em sites de relacionamentos para discutir ponto a ponto os episódios e seus acréscimos às tramas, buscando comprovar através de seu minucioso estudo e da confiança na coesão da obra que todas as informações disponíveis ajudarão a desvendar o futuro da narrativa. Dentro da realidade contemporânea em que tudo que se discute na web pode ser feito em tempo real e internacionalmente, torna-se complexo produzir um seriado longo com a proposta de que seja misterioso e transite entre a ciência e o sobrenatural sem deixar falhas que possam ser utilizadas como contra-argumentos por uma legião de investigadores multinacional e multidisciplinar. É nesse contexto que são gerados os conteúdos audiovisuais que serão estudados neste texto. Qualquer fio solto pelos roteiristas pode e será puxado na tentativa de desenovelar a trama, mas todo material que puder ser produzido no intuito de ajudar a ampliar o universo diegético, em qualquer suporte e com qualquer estilo, será. Assim, o número de fios aumenta, em conjunto com o risco de apontar para uma falha de roteiro, mas cresce a chance de o espectador que começa uma investigação querer manter-se nela. Produções seriadas geralmente permitem que se obtenha um contato prolongado com o universo ficcional através do fornecimento de material inédito, o que prolonga o prazer da audiência. É comum que um seriado tenha como premissa a “possibilidade de acompanhar um mesmo personagem em aventuras estruturalmente repetitivas (...) [para] remeter o espectador a apreciar as variações possíveis de uma mesma fórmula” (CAPUZZO, 1990, p. 20). No caso de LOST e outros seriados transmídia, há a adaptação dos conceitos apontados por Capuzzo a mais variações do universo da diegese, não apenas de um personagem ou grupo. Assim, o documentário-fictício "Os Seis da Oceanic - Uma Conspiração de Mentiras" e o episódio "Mistérios do Universo: A Iniciativa DHARMA", de um seriado fictício, são ambos produtos diegéticos, lançados à parte do horário e canais de distribuição tradicionais do seriado. São divulgados e assistidos como obras independentes, embora façam referência direta às tramas do seriado, para colocá-las em dúvida. Assim, sem romper a suspensão da descrença, mas deixando claro que “a mídia” e “o mundo lá fora” não se deixaram enganar pelo embuste armado pelos personagens, o que se tem é um reforço para a suspensão, ou ainda, como diz Janet Murray, "when we enter a fictional world, we do not merely “suspend” a critical faculty; we also exercise a creative faculty. We do not suspend disbelief so much as we actively create belief. Because of our desire to experience immersion, we focus our attention on the enveloping world and we use our intelligence to reinforce rather than to question the reality of the experience". (2000, p.110) Dessa forma, não apenas se suspende a descrença, como se cria a própria crença. Orson Welles, em “F for Fake” (1973), cria uma atmosfera através da qual leva à reflexão sobre a verdade e a farsa, contando metalingüisticamente a história de um falsificador de quadros desmascarado por um escritor famoso por ter escrito uma autobiografia falsa de Howard Hughes. Uma farsa dentro da farsa, o que leva a muitas dúvidas e questionamentos; como em LOST, em que se quer criar inquietações para manter vivo o interesse pelo universo narrativo. Para que a série funcione, os espectadores devem ser mantidos desorientados com relação à "verdade". |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques et al. A Estética do Filme. Campinas, SP: Papirus, 2006.
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