ISBN: 978-85-63552-06-8
Título | As potencialidades do método cartográfico nas pesquisas em audiovisual |
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Autor | Lisiane Machado Aguiar |
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Resumo Expandido | As pesquisas em Comunicação, principalmente as que ainda seguem modelos consolidados no campo, muitas vezes, observam seus objetos unicamente por uma via: adotam uma perspectiva determinista que o isola das diversas conexões que poderiam existir. Ou seja, para tentar compreender o objeto, acabam separando os processos que o compõe em eixos específicos. Por exemplo, nos estudos de objeto fílmico, ou focam nos processos de produção, ou na recepção, ou na análise do conteúdo. Com isso, a investigação se constrói a partir de paradigmas que engessam a pesquisa como: a representação de um objeto, a rigidez metodológica e a separação entre o sujeito e o objeto.
Deste modo, busco na processualidade da cartografia, de Deleuze e Guattari, uma alternativa para os estudos do audiovisual, pois ela reverte com os sentidos tradicionais de método. “Não mais um caminhar para alcançar metas pré-fixadas (metá-hódos), mas o primado do caminhar que traça no percurso suas metas” (PASSOS e BARROS, 2009, p. 17). Dessa forma, a pesquisa cartográfica não segue o ponto de vista tradicional do método - concebido pela ciência cartesiana, que se propõe a seguir um percurso previamente determinado por regras rígidas em procura de uma verdade absoluta -, mas busca traçar um percurso enquanto o vai percorrendo. Por isso, adoto a perspectiva de Edgar Morin para pensar o que seja método: “originalmente, a palavra método significava caminhada” (p. 36), mas na qual “é preciso aceitar caminhar sem um caminho, fazer o caminho enquanto se caminha” (p. 36). Dessa forma, delineio método não como uma técnica como o fez a ciência, mas como um processo. A ciência está em constante movimento de transformação, não apenas fazendo seus enunciados, mas criando novos problemas e exigindo práticas originais de investigação. É nesse contexto que surge a proposta do método da cartografia, que tem como desafio desenvolver práticas de acompanhamento de processos. Diferente de métodos rígidos, a cartografia não visa isolar o objeto de suas articulações históricas nem de suas conexões com o sujeito. Neste artigo faço uma proposta metodológica que abrange as questões anteriores do método cartográfico, refletindo sobre as urgências que ele suscita no tensionamento com as especificidades dos objetos audiovisuais. Com isso, proponho uma análise que desloque o foco de observação das obras para a experiência fílmica. O pensamento desenvolvido aqui é inspirado pela filosofia de Henri Bergson (2006). Segundo o autor, a ciência e a metafísica dividiram os objetos em matéria (para a primeira) e espírito (para a segunda), quando, na verdade, nossa experiência comunga ambos – é um mistura dessas duas tendências. Assim, ao voltar-se a observação sensível da matéria, a ciência se limita a perguntar sobre diferenças de grau e construir generalidades. O que Bergson propõe como o método é uma ajuda mútua entre ciência e metafísica: é preciso que, ao mesmo tempo em que se avance no conhecimento da matéria, aprofunde-se o conhecimento do espírito. É necessário que o pesquisador se volte para si mesmo, compreendendo as afetações e os condicionamentos do percurso. Logo, a cartografia busca, como método para as pesquisas que trabalham com as imagens em movimento, as especificidades, em diferentes regiões, para compor um olhar processual. Ou seja, não visa construir um mapa que sirva de guia para todos os olhares - até porque cada olhar é único e muda com as vivências do observador – mas, nesse caso procura perceber as dinâmicas, os fluxos e as intensidades presentes na experiência fílmica. |
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Bibliografia | BARROS, Laura Pozzana de; KASTRUP, Virgínia. Cartografar é acompanhar processos. In: PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia; ESCÓSIA, Liliana da. (Orgs.). Pistas do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2009.
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